TEMPO DAS ALIANÇAS IMPROVÁVEIS




Tem a estória de amor “água com açúcar”. É aquela em que os dois se amam desde o começo até o fim. Mas quando o romance se desenrola entre cenários de amor e ódio, fica bem mais emocionante. É o que se tem visto nessa adolescência tecnológica de tantos produtos e serviços.

No Brasil, Telefónica e Netflix acabam de anunciar as bodas, com lua de mel que passa por toda a América Latina e também pela Europa. O serviço OTT, que já foi odiado pelas distribuidoras de TV por assinatura, agora tem cara de galã. A promessa é de que, ainda este ano, a plataforma de IPTV da Vivo deva oferecer possibilidade de uso integrado com o Netflix.

A moda já pegou em outras partes do mundo, junto à operadoras europeias e também às americanas, como Liberty Global, Altice e Comcast. E pensar que foi principalmente por conta da guerra contra o Netflix que se moldou o conceito de “neutralidade da rede”.

Depois desse passado conturbado, de tantas brigas, a dificuldade agora é chegar aos acertos para que a convivência possa acontecer. Numa análise do site TelaViva a informação é de que não se sabe como o serviço de streaming vai ser cobrado na fatura da Vivo. Esse amor improvável obrigou os dois personagens ao protagonismo de carreiras solo, agora difíceis de serem ajustadas. Aqui no Brasil a maioria dos clientes das operadoras de TV por assinatura já é cliente do Netflix. Quanto cada uma das empresas abriria mão de receitas para não onerar duplamente o assinante?

O interesse da Vivo pelo Netflix parece simples de ser explicado. Como serviço de TV por assinatura a Vivo tem clientes que representam uma fração do número de assinantes do Netflix no Brasil. É um bonde cheio de caminhos novos.

Ademais, pela nova lei do SeAC, que regula as operadoras de TV, uma distribuidora de sinal, como a Vivo, não pode vender direitos e nem produzir conteúdo. Ao contrário do que acontece na Espanha, onde a Telefónica produz e distribui conteúdo próprio. A parceria sugere que, em breve, o Netflix pode incluir essas séries no próprio menu, abrindo espaço para vender entre os clientes brasileiros.

A dúvida maior estaria em qual a vantagem para o Netflix em fazer essa parceria com a Vivo aqui no Brasil.


MODELO MUITO ORIGINAL


Se não fosse Charles Chaplin, talvez o cinema não tivesse chegado tão rápido onde chegou. A afirmação não se refere ao enorme talento do ator. Mas ao espírito empreendedor do produtor e diretor, que não poupou esforços para criar diferentes e abundantes oportunidades para atuar.

O caso do Netflix parece semelhante. Uma locadora de vídeo da cidade de Los Gatos, na Califórnia, percebeu que poderia usar os modens da Internet para levar os filmes de Hollywood até seus clientes. Inovou em seu negócio decadente e acabou criando um negócio inteiramente novo.

Para felicidade geral, o primeiro a perceber que algo muito diferente acabara de nascer foi o próprio fundador do Netflix. Ele se encorajou a investir no OTT – Over The Top muito além de um serviço de entregas de conteúdo. Repensou a sala de TV, os hábitos das famílias, os novos meios audiovisuais e criou produções específicas para a nova realidade. Aprimorou os formatos mais adequados e colocou, no rastro das produções de Hollywood, o seu próprio selo, seus próprios produtos. Assim valorizou mais ainda o seu serviço.

Hoje o Netflix, em valor de mercado, ultrapassa a Disney. E investe US$ 8 bilhões por ano só na produção de conteúdo. Essa sempre foi a resposta para quem buscava descobrir qual seria o futuro após a multiplicação das telas. O grande negócio seria produzir conteúdo. Claro, desde que as produções possam chegar ao cliente da maneira mais simples, por qualquer uma das telas e no tempo de cada consumidor.

O serviço de streaming para produções cinematográficas poderia ter sido inventado por qualquer videolocador. Mas o modelo de negócios que o Netflix criou para se tornar um produtor de conteúdo é algo muito original. Tanto, que todos os concorrentes que surgem, adotam o mesmo modelo.

O Netflix já rivaliza com Hollywood, o distrito cinematográfico de Los Angeles. Seus formatos já começam a competir nas grandes premiações e atores já buscam o sucesso via streaming. Se não é a nova fábrica de sonhos, pode ser a nova fábrica de intrigas e tensões, como é próprio do novo formato.


ADMIRÁVEL – E TRIBUTÁVEL! – MUNDO NOVO


Apologias à parte, o ritmo tecnológico está trazendo situações complicadas para um mundo acostumado a inventar pouco e regulamentar demais. As inovações desses tempos, disruptivas que são, não se habilitam como herdeiros de normas do passado. Além do vazio legal, uma volatilidade econômica não deixa nenhum negócio completamente a salvo da obsolescência. Depois que a supremacia petrolífera foi superada pela tecnologia digital, tão abstrata, todos os negócios começaram a flutuar, tanto nos bancos, como nos tribunais.

Quem administrava as contas das empresas de telefonia móvel provavelmente não imaginava que, em tão pouco tempo, um aplicativo reduzisse tanto aqueles números. Diferente dos carburadores – que desapareceram com a injeção eletrônica – a telefonia móvel estava na ponta da tecnologia. Mas foi “reprogramada”.

A Internet das Coisas (IoT) está para ser classificada como uma infraestrutura e não um serviço. Seria como considera-la semelhante aos postes e cabos que se penduram pelas ruas. Para quem disser que IoT não é isso, fica o desafio de provar que é um serviço móvel pessoal, como querem os cobradores de impostos. Entre esses dois extremos, não há outro enquadramento tributário possível. Dilema tão universalizado, que os Estados Unidos decidiram impor uma moratória tributária para o IoT. O bicho é tão estranho que vão esperar crescer pra saber exatamente qual é a cara dele, se vai morar no quintal ou dentro de casa, se vai para o veterinário ou para o eletricista.

O contrato entre a Telebrás e a Viasat, para operação do satélite SGDC, passa por turbulências da mesma ordem. A Telebrás afirma que não precisaria abrir uma concorrência para acrescentar um instrumento à sua atividade fim, que é prover serviços de telecomunicações. Se antes utilizava apenas antenas, agora utiliza satélites. E, com um satélite totalmente operado pela estatal, ela não precisaria abrir concorrência para operar seus próprios serviços.

Entre tantas invenções surpreendentes, é necessário que os governos se reinventem para assumirem novos papéis diante da sociedade. Antes que sejam criados aplicativos para concorrerem em eleições vindouras.

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