O PASSADO DA TV ATUAL ESTÁ COMEÇANDO


A TV 3.0 finalmente passou pelo tapete vermelho de Brasília. Na última quarta-feira o Ministério das Comunicações e a Secretaria de Comunicação Social abriram o “Seminário de Apresentação da TV 3.0”. Na prática, significa o anúncio oficial da implantação do novo sistema no Brasil.


Teve até discurso em tom grandioso, apontando a TV 3.0 como uma “revolução”. O ministro Jucelino Filho, das Comunicações, não economizou na eloquência em frases como “o futuro deve estar mais próximo de nós. A TV 3.0 nos proporcionará novas oportunidades beneficiando não apenas o setor da radiodifusão, mas toda a sociedade brasileira”. Deixou “uma missão para todos nós”, ao citar o esforço que espera do próprio governo brasileiro e do setor de radiodifusão, para que a Copa do Mundo de 2026 seja transmitida para todo o Brasil em 3.0. Para tanto, até o final deste ano ele espera que o Fórum SBTVD, entidade técnica não governamental, referência do setor, defina o padrão brasileiro. O passo seguinte é a escolha da tecnologia e implantação, para que o sinal comece a entrar no ar em 2025.


Pelo visto o ministro quer esse feito para a sua plataforma política pessoal. Mas ainda faltam outras definições importantes para que essa transformação seja possível. A TV 3.0 tem muita tecnologia nova embarcada. O sistema sonoro permite que os sons se propaguem em diferentes pontos da sua sala, mesmo saindo de uma única caixa. Num jogo de futebol você pode escolher aumentar o som só da torcida ou pode silenciar por completo. Até mesmo o narrador você pode excluir. A imagem pode ser exibida em 4 K, com HDR e outros recursos poucos comuns hoje em dia. Os efeitos desses recursos de imagens são imperceptíveis em telas pequenas, o que leva a crer que os fabricantes só vão produzir toda essa tecnologia para grandes telas. O Brasil só vai começar a montar televisores 3.0 no ano que vem. E eles devem chegar no mercado com preços altos. Não é por menos. Durante o evento o presidente do Fórum SBTVD, Raymundo Barros, disse que o novo sistema “traz todos os casos de uso típicos que encontramos na jornada digital, portanto, ela se beneficia de uma completa integração”.


A TV 3.0 não utiliza nada das TVs digitais atuais. As emissoras precisam mudar novamente todo o sistema de captação, de produção e de transmissão. Um custo e tanto para centenas e centenas de geradoras brasileiras. Há quase 20 anos os conversores que transcreviam o sinal digital para televisores analógicos foram uma boa saída para a economia popular. Porém, pouco se fala em conversores para padrão 3.0. O mais provável é que convertam apenas o mínimo do sinal – som e imagem básicos – e que sejam aparelhos bem mais caros do que os set top boxes digital/analógico. Há cerca de um ano especialistas americanos previam que a NewGen TV – a 3.0 de lá – só vai ter anúncios direcionados a partir de 2025. E as compras pelo controle remoto, de produtos que aparecem nas cenas de novelas, por exemplo? Seriam viáveis em curto espaço de tempo? Sem esses recursos para aumentar o faturamento das emissoras, vai ser muito difícil as empresas investirem numa mudança tão radical e tão cara.


Ainda assim, algumas emissoras de TV aberta nos Estados Unidos afirmam que já estão faturando mais com o novo padrão. Por isso pressionam os órgãos oficiais a manterem no ar somente o sinal aberto 3.0. Hoje ele é opcional, tanto para emissoras como para o público. A tendência é que, também no Brasil, a TV 3.0 chegue como opcional. Se assim for, imagine como será para uma emissora manter dois sistemas de transmissão funcionando simultaneamente. Seja como for o passo já foi dado. Mesmo já tendo todo um “padrão híbrido” que é a TV 2.5, que permite vários avanços, a comunidade brasileira da radiodifusão está pagando pra ver – e fazer o melhor. A TV 3.0 passa a ser a grande pauta do setor. Acontecer é uma etapa já superada. A questão agora é como vai acontecer.


Portanto, uma das hipóteses a ser considerada é de que novas aplicações já comecem a povoar o imaginário do público. Quem tem uma TV conectada (smart TV) já está na era da “TV digitalizada e personalizada”, nas palavras de Raymundo Barros. Ou seja, já pode escolher o seu jeito pessoal de assistir à TV. É aí onde a indústria de aplicativos tem um espaço enorme. A criatividade brasileira já apresenta alternativas transformadoras da experiência do consumidor diante da tela. O EiTV Suíte é um sistema que a emissora pode disponibilizar para sua audiência. E cada espectador poderá conectar os aplicativos que preferir na própria “TV individual”, com seu jeito e suas preferências para assistir à TV. Numa mesma família, por exemplo, cada pessoa pode ter sua TV individual no mesmo aparelho. É só ligar o aparelho conectado com a própria conta. O EiTV Suite é uma criação brasileira que estará sendo lançado na NAB Show, em Las Vegas, no final da próxima semana.

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