VANTAGENS E IMPACTOS DE NOVAS TECNOLOGIAS


Tem uma coisa que ninguém nasce sabendo mas é uma das grandes verdades que se aprende nessa vida: “Tudo passa.” Em tempos de inovação acelerada, no entanto, um certo efeito dessa realidade parece que está mudando. É a sensação de frustração que ficava durante um tempo, depois que cada uma das coisas que estávamos acostumados passava. Obviamente aqui se trata das coisas materiais, das banalidades com as quais as pessoas se acostumam no dia a dia. Como a frustração de alguns tataravôs com os automóveis substituindo as carruagens. Ou de alguns vovôs, ressentidos com a dificuldade em encontrar pinceis para fazer espuma com creme de barbear; vovós que se apavoraram com a comida congelada e até papais que têm saudade dos carros carburados, ou dos amplificadores de guitarra que ainda usam válvulas.

O que está mudando é que essa frustração não vem acontecendo mais. Não se sabe de ninguém que sinta falta da TV analógica e reclame da digital. Será que alguém acha os smartphones uma babaquice e gostaria de ter de volta um startak, quiçá um tijolão? Em muitos casos nem dá tempo de se afeiçoar ao pioneiro. Três ou quatro gerações novas passam voando.

Esse ritmo de substituições tende a continuar acelerando por enquanto. Mesmo assim, sem saudosismo, inspira cuidados. A TV 3.0, a nova geração da televisão aberta, é um caso emblemático, que reflete o que tem acontecido em alguns outros segmentos tecnológicos. A NextGen TV ou ATSC 3.0, que é a versão 3.0 da TV aberta americana, foi autorizada lá como facultativa, porque a mudança é muito cara. Ela exige a troca de todos os equipamentos de transmissão das emissoras. E também dos televisores nos lares. Mas traz inúmeras vantagens para o público e um grande avanço comercial para as emissoras. Tanto que em 2018, quando foi autorizada, a TV aberta tinha 8% da audiência dos EUA. De acordo com Raymundo Barros, presidente do Fórum SBTVD brasileiro, com o ATSC 3.0 a TV aberta saltou para 27% da audiência americana. Por isso as emissoras abertas querem agora que o FCC, o órgão regulador do setor, desative o 1.0 para que toda TV aberta passe para o ATSC 3.0, muito mais lucrativo.

Durante a última conferência anual da ATSC – Advanced Television System Committee, no mês passado, a presidente da entidade, Madeleine Noland, teria tentado uma saia justa para o comissário Nathan Simington, do FCC, ao afirmar: “-Acho que muitas pessoas nesta sala acreditam que o ATSC 1.0 precisa ter uma meta de desativação rígida e que devemos migrar para o 3.0... Isso é algo que a atual comissão está pronta para assumir?” O comissário respondeu dizendo que “... uma transição bem-sucedida...” vai acontecer quando conseguirem “... fazer com que as pessoas gravitem preferencialmente em torno do conteúdo 3.0.” Para ele, definir uma data limite para o 1.0 seria “empurrar” o sistema atual para fora, ao invés de “puxar” o 3.0 para o lugar de sistema padrão. Isso acontecerá naturalmente, na medida em que a preferência do mercado se evidencie pela migração.

O Brasil está desenvolvendo seu próprio sistema de TV 3.0. Canadá e Índia também resolveram ter sistemas próprios. Basicamente, essa nova geração da TV Digital é caracterizada por uma transmissão mista de sinal de TV (broadcasting) com internet banda larga (broadband). De tal forma que o usuário não percebe quando está assistindo algo que chega pela Internet ou quando vem pelo sinal de TV. Para as emissoras, a principal vantagem é que assim elas podem recuperar os clientes que perderam para a Internet. As emissoras terão um histórico dos acessos de cada usuário, um perfil bem definido das preferências de cada um. Por isso podem enviar centenas de anúncios diferentes em cada intervalo, cada um para o perfil do mercado que quer atingir. Vendendo mais anúncios, o faturamento da emissora aumenta.

O que o comissário disse sobre a evolução da TV, vale no geral para todas as tecnologias. Quem sabe qual é a “melhor” tecnologia é a população. E ela demonstra essa preferência pelas escolhas que faz. Não cabe ao órgão regulador dizer o que o usuário deve consumir.

Agora está para chegar uma grande solução para a TV aberta americana. São os conversores do ATSC 3.0 para serem usados em televisores 1.0. O novo set-top box deve chegar às lojas nos próximos meses, por US$ 95,00. Ele vai facilitar muito o acesso à nova tecnologia e um eventual encerramento da transmissão 1.0. Um set-top box semelhante, capaz de converter o sistema de TV 1.0 brasileiro para o 3.0, também contribuiria muito com a nova versão da nossa TV.

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