ABRINDO ESPAÇO PARA O 5G



E se o sinal de TV não chegar por uma torre instalada nas redondezas? Sei lá, que venha do céu, do espaço sideral, o importante é que o sinal esteja no ar. E é assim que cerca de 60 milhões de pessoas assistem à TV aberta no Brasil. São mais de 17 milhões de antenas parabólicas, praticamente metade delas, em lares de pessoas que recebem benefícios sociais do governo. A infraestrutura de distribuição do sinal, que deveria ser um investimento das emissoras de TV, às vezes muda de caminho – das torres terrestres para o satélite – e a conta para descer o sinal é rateada para cada domicílio.

Os arranjos de orçamentos e tecnologias variam, mas o objetivo comum, cada vez mais, se confirma: ter audiovisual disponível durante o dia todo, todos os dias. A solução mais eficiente para essa demanda é a TV linear aberta. Um modelo de negócio versátil, que aceita adaptações, mas precisa acontecer em larga escala para se tornar sustentável. O único país do mundo onde TV linear aberta faz sucesso total é o Brasil. Um negócio sustentado pela nata da comunidade publicitária, ou seja, pela camada mais alta do próprio PIB. Com a regionalização da programação, camadas mais abaixo também passaram a financiar o negócio TV. A digitalização do sinal, a partir das próximas gerações da tecnologia, vai colocar até a padaria da esquina no caixa das emissoras. Vai parecer uma atividade tipicamente comunitária, colaborativa, onde todos podem participar, de alguma forma, da manutenção do empreendimento. Embora, o perfil comercial em busca de lucros, sempre seja preservado no comando. Com a popularidade que a TV aberta já alcançou, passou a ter até uma importância especial para os serviços públicos. Qualquer campanha mobilizada por meio da TV vira um grande sucesso.


O modelo mais utilizado no mundo, que é a TV por assinatura, é bem mais limitado. Depende do investidor desembolsar bastante dinheiro para construir uma infraestrutura. E depois, mais investimento para vender o serviço, construir uma audiência, manter a própria infraestrutura. É sustentado principalmente pelo assinante e, na outra ponta, recebe de alguns produtores de conteúdo.


No Brasil, a quinta geração de telefonia móvel, o 5G, atravessou o caminho da TV linear aberta. Já é a segunda vez que telefonia móvel e TV entram numa dividida. E pela segunda vez os interesses de ambas as partes estão sendo conciliados exemplarmente. A faixa de frequência mais usada para o 5G era uma tranquila via para o sinal de satélite que chega às parabólicas. Tecnicamente, conhecida por banda C. Agora, o sinal das parabólicas domiciliares muda para uma faixa distante, conhecida como banda K.U. Tecnologia digital e muitas outras vantagens para quem assiste à TV aberta pelo satélite. E o mais importante, sem sofrer interferência do 5G, cuja principal frequência é muito próxima da banda C.


O problema é que os dados sobre a demanda estão muito imprecisos lá pelas bandas dos órgãos públicos de gestão. Isso atrapalha o planejamento das chamadas compensações. Elas estão previstas porque o papel social da TV aberta no Brasil é muito importante. Cerca de 8,3 milhões de famílias que usam parabólicas só para ver TV aberta estão cadastradas no CadÚnico. É o cadastro de atendimento social mais abrangente do governo federal. Todas elas vão receber gratuitamente o novo kit para receber o sinal em KU. Para as estações satelitais profissionais (FSS), outro foco das compensações, são doados filtros para evitar as interferências.


A adaptação está sendo feita em fases. Primeiro foram as capitais e cidades vizinhas. Estava previsto atender só as capitais. Porém, é comum ter pequenos municípios próximos formando uma região conturbada. Frequentemente moradores das várias cidades do entorno passam pelos municípios vizinhos e, mais ainda, pela capital. A logística de distribuição das novas parabólicas e filtros foi facilitada com o atendimento das cidades vizinhas às capitais. O mesmo foi adotado na segunda fase, que atende os municípios com mais de 500 mil habitantes, e deve terminar em janeiro de 2023. A conclusão das duas primeiras fases deve ser antecipada, mas não exatamente por excesso de eficiência. Nas capitais foram disponibilizados 1,4 mil filtros, mas no trabalho em campo foram identificadas cerca de 2.000 estações FSS. Por outro lado, dos 250 mil kits de parabólicas estimados para famílias carentes das capitais, foram necessários apenas 3 mil. A Anatel concluiu que essa redução se deve à maior penetração da TV digital e da banda larga.


A boa notícia é que, com a limpeza da banda C nas capitais, a Anatel já autorizou as operadoras a ligarem o 5G nessas cidades e nas cidades do entorno. O trabalho segue assim. A cada área em que a limpeza da banda C for concluída, a Anatel estará liberando para operação do 5G. Uma tecnologia que traz ganhos inclusive para o streaming, o serviço audiovisual que está conquistando o público da TV.

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