O RIO DE JANEIRO EM PROSA E (META)VERSO


Humanos gostam de brincar de deus. Quando bem sucedida, a brincadeira evidencia, mais ainda, o quanto estamos longe da perfeição. Se, ao contrário, não rola, o prejuízo é grande e sobra uma marca “micada” pela fama de megalomaníaca.

O Metaverso vai encarar esse risco. Foi bem no primeiro passo, ao vender a ideia na mídia de massa. O Facebook levou ao mundo simulações que certamente causaram admiração para muitas pessoas. E parece que vai manter o entusiasmo, como numa campanha, exibindo novidades ao longo do tempo. Aos olhos técnicos mais atentos pode ter ficado outra impressão, de que depois de alguns meses de uso, o Metaverso pode se tornar uma grande chatice. Em todo caso não convém desprezar a inventividade e a competência desses loucos conectados a bits. Uma das grandes cartadas, por sinal, pode acontecer bem aqui, na terra da nacionalidade Divina.


Por enquanto o Metaverso pode ser visto como uma plataforma suficientemente robusta para colocar em operação, no melhor nível, todas as promessas que a tecnologia de consumo já fez, demonstrou experimentalmente, mas ainda não entregou nas lojas. Dentre elas a inteligência artificial, realidade aumentada, realidade virtual e até o próprio 5G. Pois é, o Brasil está pondo bilhões no 5G para ter o release 16, ou Stand Alone, “o único padrão de 5G que pode oferecer todas as vantagens dessa tecnologia”. No entanto, dados da organização internacional 3GPP, que normatiza o setor, mostram que é pequeno o número de países com 5G release 16. O famoso “meia boca” ainda prevalece.


O risco de tédio no Metaverso pode ser testado num simples esforço de imaginação. Você quer conversar com alguém no seu banco sobre determinado assunto. Quer dizer que você já colocou o device nos olhos e “saiu” do mundo real. Afinal, até os gestos que você faz respondem dentro do Metaverso. A “pessoa” que vai atender você deve ter expressões faciais muito agradáveis, assim como a voz. Mas, se tiver a inteligência artificial precária que experimentamos diariamente – ou até 10 vezes melhor – será decepcionante. Vamos admitir que a IA seja suficiente para você resolver seu problema. Vai ser maravilhoso! Você faz outros contatos semelhantes no mesmo dia, no dia seguinte e... de repente, aquele ambiente “Cartoon”, com arquitetura de desenho animado, começa a cansar. Então você pensa por que aquela inteligência não está no Zoom ou no Teams? Você resolveria do mesmo jeito, enquanto observa no seu espelho se já não é hora de cortar o cabelo. Que dizer, pode fazer isso com um pé em cada mundo, no real e no virtual.


O exemplo está um tanto pessimista. Não à toa. O que se pretende é dar um clima para as especulações que vêm logo mais, bem otimistas. Antes, um dado concreto precisa entrar na história: no primeiro dia deste fevereiro foi assinado, no Palácio da Guanabara, sede do governo fluminense, um memorando de intenções para transformar a cidade do Rio de Janeiro num modelo de cidade inteligente. O memorando foi assinado entre o governo do estado e as italianas Tim (conectividade e segurança cibernética), Enel X Brasil (energia) e Leonardo (mobilidade elétrica). O prazo da parceria e os valores a serem investidos não foram informados. É o que dá margens para especulações à respeito do que mais pode fazer parte dessa empreitada.


Um mês antes, também na cidade maravilhosa, a Tim inaugurou um novo conceito de loja, com acesso ao Metaverso. Era o segundo evento vanguardista da mesma empresa que, semanas antes, anunciou a primeira chamada de voz pelo 5G na América Latina, segundo o site Tele.Síntese. E nesta sequência aparece o acordo entre as empresas italianas e Rio de Janeiro. As partes falam em “laboratório vivo” para soluções tecnológicas que contribuam para o desenvolvimento sustentável. E que lugar melhor para o tal laboratório do que a metrópole mais bonita do planeta, pela natureza exuberante? Pode ser um cenário privilegiado do cluster italiano de tecnologia. Com muitas vantagens!


Pelo memorando já está acertado que será oferecida uma gama completa de serviços eletrônicos: e-city, e-home, e-mobility, e-industries e também serviços digitais financeiros. De acordo com o site Convergência Digital o objetivo é “facilitar a vida dos cidadãos, agregando qualidade de vida e segurança ao seu cotidiano”. Isso inclui tecnologias de segurança pública, integradas a sensores inteligentes, transportes, dados do clima e qualidade do ar. São muitos dados, sons e imagens para conectar ao Metaverso. O mundo inteiro “metando” (flexão do verbo “usar o Metaverso”) em pleno Rio de Janeiro.


O Metaverso pode permitir que o mundo inteiro interaja com um Rio de Janeiro seguro, com a alegria do carioca, a cultura, num dos cenários mais encantadores da Terra. O que pode significar uma oportunidade muito especial para motivar reformas e atrair mais investimentos para a cidade brasileira mais cosmopolita. Um caminho amplamente inteligente.


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