CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA EM MEIO À PANDEMIA



A polícia britânica e órgãos antiterror estão mobilizados nesses dias para conter ataques às torres de conexão 5G na Inglaterra. Grupos estão depredando a infraestrutura de telecomunicação e ameaçando engenheiros que trabalham na implantação ou manutenção da nova tecnologia. Para os vândalos, trata-se de uma tentativa de conter o avanço do novo coronavirus (covid-19).

Diante dessa informação o que lhe vem à cabeça? Você passaria adiante o parágrafo acima? Como seu senso lógico reage a esse conteúdo? É muito provável que, entre as pessoas com quem você convive, tenha alguém que acredite: “-Será que a radiação do 5G dissemina o vírus?” Isto é, se não é também o seu caso.

É verdade. Na Inglaterra, país de primeiro mundo, terra da lendária Universidade de Oxford, grupos de pessoas acreditam que o sistema 5G está ajudando o vírus a infectar a população. O site Teletime informa ainda que a GSMA, entidade máxima da tecnologia móvel no mundo, emitiu no último domingo um comunicado sobre os ataques.

Nessas horas a gente pensa que o problema não está na divulgação das fake news. Mas na aceitação tão imediata de informações sem qualquer fundamento. Um fenômeno que se observa mesmo em pessoas com elevado grau de instrução. Seria esse o folclore dos novos tempos?

Hipótese tem pra tudo, desde a Terra plana até os deuses astronautas. O que se espera é que os filtros do bom senso, abastecidos de conhecimento amplamente comprovado, classifiquem as hipóteses como mais prováveis ou menos prováveis. Essas últimas, as aparentemente impossíveis, recomenda-se mais cuidado para passar para frente, mais ainda, na hora de reunir falanges para destruir antenas. O mundo anda muito surpreendente, é verdade. Há seis meses, se dissessem que uma pandemia iria paralisar o mundo, quem acreditaria? O BBB deste ano pode passar a ter um papel histórico na ciência. Quanto tempo vai demorar para os últimos participantes do reality acreditarem no que está acontecendo aqui fora?

Se é tão difícil ter tanto conhecimento para entender de tudo que acontece, o caminho tem de ser a responsabilidade. No momento essas reações exacerbadas podem estar impregnadas de um certo pânico. A sensação de impotência diante de algo tão rápido e tão agressivo, talvez leve algumas pessoas a atitudes impensadas. Porém, precisa ser muito ingênuo para acreditar em alguns “formatos” mais gastos nos últimos tempos. Coisas como “políticos fizeram o Youtube tirar esse vídeo do ar”, “os bancos não querem que ninguém saiba”, “uma médica chinesa foi presa por divulgar”, “avós foram detidas pela polícia porque aparentavam idade muito inferior à que consta no documento”. Tem ainda algumas lições que foram faladas na escola, antes de chegar na faculdade. Como a impossibilidade de cruzar animais que não têm qualquer proximidade, como o morcego e a cobra, que teriam parido o coronavirus.

A humanidade, que é muito desigual na distribuição de renda, também parece desigual na distribuição de conhecimento. Também de responsabilidade. A polarização política procura oportunidades para conseguir destaque na auto exaltação ou na difamação dos oponentes. De repente, a população se vê no meio de um debate sobre o isolamento horizontal ou vertical, se a cloroquina é eficiente ou não, a máscara é boa ou ruim, um metro de distância ou dois. Isso sem contar acusações seríssimas e potencialmente explosivas, como a origem do vírus, se teria sido num mercado de animais ou em um laboratório.

O novo coronavirus pode acabar se tornando uma nova medida da maldade, que precisa ser reduzida. A maldade da fraude em aplicativos para tomar os R$ 600,00 de quem não tem dinheiro para comer. A maldade de quem agride profissionais de saúde na rua, como forma de afastar o risco de contágio. Pessoas que vendem um composto qualquer como sendo a cura da covid-19, ou mesmo as que, há muito tempo, já vendem remédios falsificados em embalagens adulteradas.

De fato, o mundo vai ficar muito diferente depois da pandemia. E mesmo antes. Essa doença está revelando problemas dos quais a sociedade humana sofre há muito tempo, mas bem poucos sabem. O egoísmo, a ganância, já atingiram picos que não pareciam ser possíveis. Ainda bem que, a nossa sobrevivência em meio a tudo isso, é um sinal firme de que tem muito mais gente boa por aqui. E esses tempos podem ser a oportunidade de mostrarmos, a quem ainda não consegue ver, as atitudes concretas que vão nos conduzir a uma vida melhor.

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