DESAFIOS BANAIS QUE ESVAZIAM A SUA MENTE
O que você faria agora se pudesse escolher?
A maior parte das pessoas possivelmente nem para pra pensar
na resposta. Continua esta leitura na tentativa de encontrar logo, nas próximas
linhas, uma alternativa convincente. Mas em algum momento dos próximos minutos
a memória vai voltar à pergunta. Então alguns vão olhar pela janela e
dependendo do tempo vão escolher entre o sofá de casa ou o balcão de uma
padaria, quem sabe o próprio travesseiro. Outros vão sentir um frio na barriga
e lembrar dos compromissos, dos trabalhos que poderiam antecipar. Os mais
sonhadores podem pensar até em viagens.
Essas são coisas que a gente faz pelo lado real da vida,
quando atuamos no mundo concreto. São coisas que exigem alguma programação de
tempo e lugar. E por isso, cada vez mais, estão perdendo espaço na agenda. O
desafio maior é o que fazer do pensamento, que não exige quase nada para
provocar sensações. Quando o filósofo anunciou "penso, logo, existo"
ele estava falando de algo mais banal do que poderiam supor os eruditos da
época. De fato, quem está vivo respira e pensa. Para os monges do Tibet, esses
dois reflexos parassimpáticos podem ser suficientes para preencher boa parte da
vida. Mas aqui entre os comuns, despoluir as atmosferas física e mental
representa um grande desafio.
Ler pode ter sido uma das primeiras distrações do
pensamento. Nesse caso, acabou revelando grande utilidade para o
desenvolvimento humano. Não é sempre assim com os passatempos. Vieram as
palavras cruzadas, jogo dos sete erros, ligar os pontos para formar figuras e
outras coisas que não devem acrescentar nada aos praticantes. Nem por isso
perderam espaço. Ao contrário, estão crescendo e se tornando grandes negócios.
A Amazon, gigante do varejo virtual, está investindo pesado nesses passatempos,
esses "conteúdos vazios", como videogames e outras diversões
eletrônicas. Pode não ter sido exatamente por isso, mas em 2014 a empresa
desbancou o Google no segundo lugar do ranking publicado pela revista americana
Fortune, que indica as empresas mais admiradas do mundo. Em primeiro lugar
continua a Apple, mas a posição de vice, que há tempo era do Google, agora está
com a Amazon.
No mês passado as duas empresas também apareceram como
rivais numa outra disputa, novamente vencida pela Amazon. Pode ter sido só
especulação, mas a mídia especializada vinha anunciando como certa a compra do
portal Twitch pelo Google. Antes de qualquer pronunciamento das partes, a
Amazon se antecipou e anunciou a compra do portal por US$ 970 milhões. O Twitch
é um portal de streaming de videogames que reúne numa plataforma web jogadores
individuais, desenvolvedores e editores de games, além de organizações de
esporte. Nada que possa minimizar a fome no mundo ou resolver qualquer outro
desafio desses tempos. Mesmo assim Emmet Shear, o CEO da mais nova empresa da
Amazon, não economizou no tom de cidadania ao falar das perspectivas a partir
da aquisição: "-Fazer parte da Amazon vai nos permitir fazer ainda mais
pela nossa comunidade. Esta mudança vai significar muitas coisas boas para
nossa comunidade, e vai nos permitir levar o Twicth para ainda mais pessoas
pelo mundo". A comunidade da qual ele fala tem apenas 3 anos de
existência, reúne milhares de membros pelo mundo e tem a missão de ajudar a
esvaziar sua cabeça, já que quase todo o resto do planeta está empenhado em
encher seu cérebro de obrigações.
A plataforma do Twitch está disponível nos consoles de nova
geração, como PlayStation 4 e Xbox One, além de dispositivos móveis tipo iPad.
É frequentada por produtores de conteúdo que, de maneira individual ou
colaborativa, desenvolvem games e outras alternativas de entretenimento
eletrônico. Um espaço virtual integrado a um modelo de negócio parecido com o
YouTube, da concorrente Google, que se baseia em visualizações e propagandas.
Por esses esforços em disputar a mente das pessoas, de
navegar no espaço do pensamento delas, é provável que os ambientes passem a
ganhar um aspecto muito diferente daqui em diante. Você já reparou como os vagões
do metrô ou mesmo os ônibus estão diferentes? São cada vez mais pessoas olhando
atentamente para a tela do celular ou de um tablet. Em pouco tempo, esse hábito
pode crescer tanto que você vai sentir a sensação de entrar num local de
trabalho, tal será a concentração das pessoas fincadas nas respectivas telas.
Isto é, se você conseguir desviar o olhar da sua própria tela, quando passar
pela porta do ônibus.
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