O OLHAR DOS ANJOS


Nada de superficial no mundo dos grandes negócios. A era de ouro, negro aliás, ainda não acabou para os hidrocarbonetos. Desde 1916, quando John Davison Rockefeller tornou-se o homem mais rico de todos os tempos, o petróleo das profundezas da Terra é uma fonte segura de riqueza. É de lá do fundo, até das águas, que uma parte significativa das fortunas do mundo ainda prospera. Por outro lado - exatamente do outro lado - os atuais donos das primeiras posições no ranking da Forbes lançam seus investimentos em órbita. Foi para lá que o Google mandou US$ 500 milhões de dólares ao adquirir a Skybox Imaging, que usa pequenos satélites para transmitir imagens de alta resolução, obtidas bem do alto.

O foco exato dessa aquisição ainda tem algum suspense. Dois meses antes o Google tinha comprado uma empresa de drones que irradiam sinais da Internet, a Titan Aerospace. Num negócio idêntico o Facebook investiu US$ 20 milhões para comprar a Ascenta, algumas semanas antes. A empresa, agora do Facebook, também usa drones para distribuir sinais da Internet, cada vez mais preciosos. O Google garante que, por enquanto, os satélites da Skybox vão apenas melhorar os mapas e atualizar com mais frequências as imagens que ela gera para o mundo todo. "Com o tempo, esperamos também que a equipe e a tecnologia da Skybox sejam capazes de ajudar a melhorar o acesso à Internet......", considera um executivo da empresa. Tudo indica que ele foi sincero. Especialistas do setor garantem que, para entrar no segmento de satélites de comunicação, a Skybox teria que começar do zero. Toda a tecnologia desenvolvida até aqui pela empresa está voltada para imagens. A comunicação pela Internet o Google está inovando com o Loon, um projeto baseado em balões que vão intermediar o sinal em regiões de difícil acesso.

Ali das alturas, para qualquer lado que se olhe tem muito dinheiro circulando. O mercado mundial de imagens de satélites movimenta US$ 12 bilhões por ano, e a oferta do produto é considerada limitada. Por enquanto, as grandes do setor vendem o serviço principalmente para governos, que querem vigiar suas fronteiras e sabe lá mais o que. São os tais dados estratégicos. Mas o mercado agrícola, também os de outras commodities importantes, as redes de informações climáticas e uma infinidade de segmentos empresariais estão dispostos a pagar bem por imagens de satélites, desde que mais atualizadas, segundo afirmam dirigentes de empresas do ramo. Uma foto de satélite "bem atual" no mercado, se for das caçulas tem pelo menos três anos, garante James Crawford, diretor de uma empresa de mapas.

Pelo tamanho estimado do mercado e pelo estilo dominador do Google, há quem aposte que a compra da Skybox é o começo da montagem de uma "NASA particular" da empresa, que pode avançar muito nesse segmento de negócios. Ela passaria de compradora à fornecedora do mercado de imagens. Com o desenvolvimento de motores de busca de imagens, a montanha de dólares acumulados pode se aproximar dos satélites. As previsões apontam, por exemplo, para informações em tempo real sobre o número de navios ancorados num porto, ou no largo esperando para atracar. As árvores de uma área de floresta poderiam ser conferidas várias vezes ao dia, para saber se está havendo desmatamento ou focos de incêndio. Os satélites podem monitorar também todas as reservas de petróleo do mundo de um único ponto do planeta. Isso sem contar o desempenho da plataforma de mapas para smartphones Android, capaz de surpreender o iOS da Apple e outros concorrentes. Tecnologias como agricultura de precisão, ou mesmo militar, podem estar no foco dos negócios da empresa com imagens. E as conjeturas nem chegaram nos sinais de Internet, que companhias aéreas americanas já compram de satélites, para disponibilizar o wi-fi aos passageiros durante o voo.

Por enquanto, a Skybox tem apenas um satélite cortando as paisagens dos anjos. Mas a previsão, antes mesmo da aquisição da Google, era lançar outros 15 satélites até 2016. Os novos donos têm tudo para acelerar ao máximo esse cronograma.

As possibilidades são tantas que o mais importante agora seria entender por onde a Google pretende começar e quais seriam os passos seguintes nessa longa epopeia pelos céus. Afinal, se de lá de cima as coisas não fossem tão mais fáceis, Deus escolheria um outro lugar para morar.

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