POR ONDE ANDA A INTERNET



Muita gente nem imagina há quanto tempo foi criado um caminho para a Internet viajar. De certa forma o tal caminho existe desde antes do mundo ficar pronto. A base da infraestrutura é que precisou daqueles tijolinhos especiais que se chamam organização. É isso que faz a União Internacional de Telecomunicações – e já faz há um bom tempo. Ela organiza o uso desse recurso, o fenômeno natural das ondas eletromagnéticas, para que as telecomunicações possam existir, crescerem e se diversificarem.


A UIT está reunida em Bucareste, capital da Romênia, com representantes de dezenas de países e centenas de empresas de tecnologia. A conversa vai até o próximo dia 14, mas possivelmente vai reverberar pelos próximos anos. A cada quatro anos é realizada a Conferência de Plenipotenciários, um nome diferente que deve ter a ver com o contexto da criação do órgão. Afinal, com já foi dito, ele existe há um bom tempo. Nessa edição do evento a proposta brasileira deu destaque para a cibersegurança, segundo o site TeleSíntese. O tema foi quase uma unanimidade entre os participantes.


A PP-22 (Plenipotenciários 2022) ganhou importância por causa do avanço que tecnologias de comunicação altamente rentáveis tiveram fora dos Estados Unidos ou de sua zona de influência. Sim, é o 5G chinês, o mais competitivo entre todos. A Huawey está preparada para produzir o sistema em larga escala, com todo o pós venda, treinamento, assistência técnica e tudo que o freguês mandar. Esse negócio da China (né!?) vai abrir uma fenda profunda do mercado. Sem contar o peso estratégico dessa tecnologia. Por isso Joe Biden garantiu amplo apoio e emplacou o nome de Doreen Bogdan-Martin, como nova secretária geral da UIT. A eleição foi em 29 de setembro, primeiro dia da PP-22. Ela vai substituir o chinês Houlin Zhao, eleito em 2014 portanto, impedido pelo estatuto da UIT de disputar segunda reeleição. O candidato da “situação” foi o russo Rashid Ismailov, que tem no currículo o posto de ex-vice-ministro das Telecomunicações da Rússia e foi executivo da empresa chinesa Huawei. Entendeu por que Biden estava preocupado? A votação secreta trouxe grande apreensão, mas Bogdan-Martin obteve 139 votos, de um total de 172. E se tornou a primeira mulher a liderar a organização.


A propósito, o “bom tempo” de existência dessa organização, que cuida dos caminhos da internet, são 157 anos. Pode fazer as contas, foi fundada em 1865. Nem o rádio existia. Um grupo de países europeus, interligados por telégrafo, precisava de uma padronização para poderem conversar entre si. Nos dias atuais, com o rápido crescimento de novas tecnologias, estabelecer padrões faz toda diferença. A Huawei teria feito algo em torno  de 2.000 propostas de padronização para rede 5G, cibersegurança e inteligência artificial, dentre outros. O que implica diretamente em novos padrões industriais. Parte desses propostas foram decididas pela UIT. Historicamente, a agência ganhou muita importância pelo uso das telecomunicações nas duas guerras e também por organizar o espectro eletromagnético, a partir do crescimento das emissoras de rádio comerciais. Logo depois da criação da ONU a UIT foi incorporada como agência internacional, a exemplo da FAO, Unesco, OMS e outras.


No debate underground para a eleição da secretaria geral, os Estados Unidos se posicionaram como favoráveis à continuidade da internet aberta. Do outro lado, China e Rússia estariam defendendo maior controle por parte dos governos de cada pais. A China teria até proposta de um “New IP”, um novo protocolo de internet que permitiria a cada governo, por exemplo, determinar quem pode usar a rede para isso, e quem pode usar para aquilo. É o “direito soberano dos países de regular o segmento nacional da internet”, como consta no pacto assinado pelos dois países no último mês de junho.


A PP-22 acontece para discutir as diretrizes de todo o trabalho da UIT para os próximos 4 anos. Pelo visto, não vai ser durante esse tempo que a internet passará para o domínio dos governos nacionais. Porém, o estalo já foi suficiente. As organizações de padronização, a exemplo também da ISO, devem ganhar mais importância agora. Afinal, a guerra fria que começa não é entre dois blocos militares, mas principalmente, entre dois gigantes industriais. O “campo de batalha” passa a ser outro.

Numa visão mais próxima do consumidor é importante pensar o que pode mudar com uma internet onde o governo do país pode determinar até os sites de compras para cada um. No caso específico do streaming, que é entregue para internet, o risco de censura ou direcionamento seria extremo. Um baque para toda uma cadeia de produção, responsável por um dos produtos mais consumidos no mundo de hoje. 

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