A BANDA LARGA EM ROTA DE COLISÃO



Há pouco mais de um ano o mercado global de streaming era avaliado em US$ 50,11 bilhões. O dado é da revista Meio & Mensagem, ao citar o Market Analysis Report. Pelo ritmo de crescimento, em 2028 deverá chegar a US$ 223,98 bilhões. É uma expansão de quase quatro vezes e meia. “-E então, vai deixar passar?”, é o que está martelando na cabeça de muita gente. Toda a vertical do negócio vídeo tende a se aquecer muito.


Alguns movimentos demonstram que o lugar mais estratégico a ser conquistado nessa disputa é o televisor. E isso não é nada óbvio. A quantidade de celulares – que também têm telas – é maior do que a de televisores. Tem ainda os microcomputadores, notebooks, tablets, todos muito presentes no cotidiano. Por que, então, os televisores? Porque é onde as grandes do streaming mais precisam ganhar espaço. Os canais lineares – principalmente das TVs abertas – no Brasil, dominam em grande parte o uso do televisor. No mundo todo a TV aberta está crescendo, e o streaming é o principal responsável por isso.


Assistir à televisão é um hábito doméstico comercialmente poderoso. Qualquer pessoa se lembra facilmente de uma marca que conheceu pela TV. De uma oferta muito barata, de algo que só percebeu no supermercado porque tinha visto num intervalo comercial. A TV vende muitos carros, celulares, gigabits de internet e também assinaturas de streaming. Você já pensou se todo esse potencial estivesse apenas nas mãos das empresas de streaming? Pois os gestores da Netflix pensam nisso o tempo todo. Ou então, qual seria o motivo de se preocuparem tanto em anunciar o “fim da TV linear”?


O serviço de streaming já tem diferentes modalidades no mercado. A mais popular, tipo Netflix, Amazon Prime, Disney Plus, HBO Max, é o SVOD (subscription video on demand), aquele que você precisa assinar. A outra modalidade que está crescendo muito é a AVOD (advertising-based video on demand). Como o YouTube. Você pode assistir a uma palestra do Prof. Mário Sérgio Cortella, por exemplo. Mas, durante a palestra, vão passar alguns anúncios (advertising). Outras empresas estão oferecendo séries e filmes nesse modelo de negócio e o Brasil, no momento, é o eldorado delas.


Matéria publicada no site TelaViva traz números da Kantar Ibope Media para comparar. Entre o público do Brasil que consome vídeos em casa, numa média diária, 28% utilizam alguma plataforma AVOD. Numa comparação, a média diária de uso das plataformas SVOD é de 11% do público. A procura pelo AVOD é 2,5 vezes maior do que no SVOD. Se a comparação for feita ao longo de uma semana o AVOD ganha de 46% contra 26% do SVOD. A média mensal é de 58% para o AVOD e de 42% para o SVOD.


A forma como os dados são apresentados não indica a média de tempo de uso dessas plataformas. Dá para supor que, sendo o AVOD gratuito, muita gente abra, assista um pouco pra ver se é interessante e desligue pouco depois. No SVOD é provável que o consumidor pense mais, escolha com mais cuidado, portanto deve ficar mais tempo assistindo. E daí? Se, ao rodar o conteúdo AVOD, o consumidor chegar até a propaganda, bingo! Em boa parte ele já deu o retorno esperado por quem pagou o vídeo, que é o anunciante. Esse modelo de propaganda prevê ainda muito aprimoramento. Por exemplo, as mensagens devem estar intimamente associadas ao conteúdo do vídeo, além de outras técnicas para chamar mais atenção para a marca. Por tudo isso, há previsões de que as plataformas AVOD cresçam muito no Brasil. Devem movimentar o mercado publicitário, as produtoras e até criadores de conteúdo. Além da Pluto TV, a primeira dessas plataformas que chegou ao Brasil, outras devem vir focadas em segmentos específicos, como filmes policiais, de catástrofes, de época. E muita coisa ainda pode ser inventada.


O que parece muito distante é reinventar a TV como um entretenimento totalmente derivado da Internet. Cada um teria de criar a própria programação. Porém, mesmo que isso se torne muito fácil de ser feito, sempre vai faltar o efeito surpresa. Aquele fato que acabou de acontecer em algum lugar e todos querem saber já. Pode ser um remédio contra a covid, a descoberta de vida em outro planeta, o tombo da Ivete Sangalo num palco, a contratação de um grande craque do futebol. É o que vamos ver em poucas semanas, em escala nacional. Toda a sociedade brasileira vai parar algumas horas, em determinados dias, para os jogos da seleção no Qatar. Ninguém vai esperar pra ver na Internet. O broadcast, a mensagem geral que irradia de um ponto em direção a todos, faz parte da experiência humana.


Por fim, tem a surpresa mais desafiante: a tecnológica. Caso dos projetos de customização de DTV Play desenvolvidos pela EiTV. Eles permitem que cada emissora tenha seu próprio serviço de streaming do tipo SVOD ou AVOD, faça levantamento da audiência em tempo real, anúncios direcionados. Tudo a partir do próprio canal de TV aberta da emissora. Isso pode mudar muito o cenário do streaming no Brasil. 

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