O QUE ESTARIAM FAZENDO A ESTA HORA?



Cheiro de café passado na hora e bolo caseiro saído do forno. Talvez esse seja o exemplo clássico do que se conhece por “pequenos prazeres”. Eles são muitos, cada pessoa costuma ter alguns próprios. Cochilo na rede depois do almoço, banho de mangueira no calor, pipoca no cinema, procurar biscoito quebrado no saquinho, lavar o carro no sábado à tarde. Não são preferências universais, pelo contrário, prediletos para alguns, insuportáveis para outros. O que têm em comum é que são simples, coisas fáceis de encaixar em qualquer rotina. Descobrir e cultivar esses prazeres pode ser o que se chama viver bem. É saber o que quer e poder fazer.


Essas características justificam umas as outras. Se fossem prazeres unânimes, seriam inacessíveis à maioria. (Decreto da oferta e procura.) Se fossem raros, poucos teriam oportunidade de experimentar. Estão por aí, em todo lugar um pouquinho, suficiente para os respectivos apreciadores. Um equilíbrio em ameaça de ser quebrado. Sim, mais uma vez, o elemento mais abundante no planeta, pode mudar tudo. Não, não é o elemento químico oxigênio, é o bit.


A tecnologia da informação está criando pequenos prazeres um tanto esquisitos. E ainda, são tão prontamente disponíveis, que se tornam viciantes. Por exemplo, viciado em jogar paciência. Há 50 anos, quando só se jogava com baralho, isso não acontecia. Outra rodada exigia recolher todas as cartas, virar cada uma para baixo, embaralhar e colocar uma por uma na posição certa. Agora, aperta-se uma tecla e aparece um jogo pronto na tela. Até hoje tem gente viciada em tetris. Onde isso vai parar ninguém sabe. Mas aonde já chegou, é surpreendente! 


O que é, o que é, um pequeno prazer do passado que, depois de informatizado, em cada 100 pessoas, 74 escolheriam ao invés de ler um livro; 68 não trocariam para assistir a um jogo de futebol do próprio time; 63 em cada 100 preferem do que sair com amigos e 61 deixariam de praticar esporte ou de ir a uma festa ou show, para curtir o tal prazer? É o streaming! Aquele filme ou série da TV, que tinha dia e horário certo, também foi pra debaixo do botão, na hora que quiser. A coisa é tão séria que, entre outras 12 atividades comparadas, o streaming só perde para ir à praia, ou ficar com a família ou fazer sexo – mas tem que ser com a pessoa amada, casual pode perder. Na mesma pesquisa foi constatado que entre cada grupo de 4 pessoas, 3 assistem filmes ou séries por streaming diariamente. E 88% dos entrevistados já maratonaram séries durante uma noite inteira, até o dia raiar. Pela falta de tempo, o horário do almoço ou do jantar são os mais compartilhados com o streaming


O que o seu médico acharia disso? Ou o seu chefe, ao saber que mais da metade dos entrevistados (54%) já atrasaram em compromissos por causa de um bom filme? O pior é que, se puxarem sua orelha, pergunte a eles se já não passaram por essas mesmas situações. As chances de você revidar são grandes. Revanchismos à parte, fica claro que o impacto do streaming na sociedade é algo a ser estudado. O que era um pequeno prazer, sem sabor, sem cheiro ou textura, está se tornando a mais singela preferência universal. Com a evolução dos aparelhos de TV e a chegada às classes sociais menos abastadas, vamos ver o que vem.


A pesquisa, divulgada no site Tela Viva, foi desenvolvida pelo Instituto FSB Pesquisa e ouviu 2 mil consumidores, com idade acima de 18 anos, entre os dias 29 de dezembro de 2021 e 5 de janeiro de 2022. Foi encomendada pela plataforma de streaming Roku, que está há dois anos no Brasil. A plataforma pode ser acessada em qualquer televisor por um aparelho próprio. Mas é mais consumida por meio de televisores Roku, fabricados em parceria com Philco, Semp, AOK e TLC. Atualmente disponibiliza 5 mil canais e 100 mil filmes para os clientes.


Um detalhe da pesquisa que chamou atenção é o fato de que somente 15% dos entrevistados preferem o streaming pelo computador e 17% pelo celular. A grande preferência é pela TV, 65% da amostra. Uma opção lógica. A qualidade das produções, com recursos sofisticados de som e imagem, encontra limitações nos aparelhos menores. Só as grandes telas permitem apreciar integralmente cada conteúdo. Nesse quesito, o cafezinho ganha longe.

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