INDÚSTRIA DA TECNOLOGIA E DE ANORMALIDADES




Numa hipótese ilustrativa, considere que o Real Madrid, clube campeão do mundo de futebol, anunciasse uma data para apresentar sua última contratação. E que ninguém soubesse se seria um jogador, novo técnico, um diretor de futebol ou outro profissional dos gramados. Chegado o dia, a contratação apresentada: LeBron James, atual número um na liga de basquete americana. A única certeza possível seria de que uma grande mudança estaria acontecendo no Real Madrid.

Pois é o que deve estar acontecendo com a Apple. Ao anunciar a contratação de Oprah Winfrey, a principal apresentadora de TV dos Estados Unidos, a Apple não deve estar pensando em seus circuitos ou sistemas operacionais. O serviço de streaming seria o novo horizonte.

A Apple Music, que segundo o site UOL, já teria 40 milhões de usuários em 115 países, vai ser a grande conexão da empresa com potenciais clientes de conteúdo em vídeo. A plataforma, criada originalmente para concorrer dentro no mercado de músicas, já tem 5 séries em vídeo disponíveis e muitos outros nomes de destaque do cinema e da TV. Dentre eles, Gwyneth Paltrow, Jessica Alba, Kristen Wiig, Reese Witherspoon. E, claro, um enorme orçamento para que eles criem coisas novas.

O investimento em serviços de streaming já teve outros recentes e robustos sinais do interesse da empresa. No mês passado a Apple Music anunciou que vai passar a ser também um selo musical, contando com toda a estrutura para lançar músicas e artistas. Estudos recentes apontam para o crescimento do interesse popular por grandes eventos ao vivo, que podem ser também shows musicais. Isso estaria entre os projetos da Apple Music?

É inquestionável a tendência de expansão de negócios das gigantes de informática através de serviços. A nuvem, em princípio, foi um caminho natural. Mas hoje, Amazon e Microsoft também investem em conteúdo.

Essa sequência de anúncios de investimentos de peso levanta agora outra questão: até onde essas poderosas empresas de tecnologia querem chegar na produção de conteúdo? O cenário artístico musical pode voltar a ficar sob o domínio de grandes empresas, como no tempo em que os selos de maior peso ditavam a programação musical das rádios e escolhiam quem chegaria ao sucesso?


NÃO HÁ COMO CONTER O CONTEÚDO


O estalo deve ter acontecido a partir do Netflix. O streaming de vídeo cresceu muito além das expectativas iniciais em Los Gatos. E, para entender essa explosão, convém revisitar certos momentos na linha do tempo dessas tecnologias.

Há cerca de 40 anos, quando lançaram o aparelho de vídeo cassete, houve até a expectativa de que as salas de cinema iriam desaparecer. Aconteceu o contrário. Elas se multiplicaram e em locais mais privilegiados, do ponto de vista comercial. Porém, a qualidade de som e imagem das TVs naqueles tempos, limitava muito a experiência de grandes obras cinematográficas rodando em casa.

Por outro lado o público teve mais contato com o conteúdo cinematográfico, e gostou. O comodismo, que dominava o negócio das salas de cinema tomou um chacoalhão. Como o conteúdo estava valorizado, decidiram investir em tecnologia para o público. E não pararam mais. Desde os assentos confortáveis até às telas digitais, imagens 3D, som imersivo.

Hoje em dia, muitas casas do seu condomínio ou do seu bairro já têm TVs com uma qualidade de som e imagem superior às salas de cinema do passado recente. É bem provável que seja assim na sua casa. Com as conexões domésticas mais comuns pode-se dispor dessa qualidade, bem superior ao blue ray, sem qualquer equipamento a mais.

Agora sim, falar em grandes produções exibidas em casa é algo muito diferente do que já foi no passado. Não que isso vá acabar com as salas de cinema agora. É que estamos vivendo um novo momento de valorização do conteúdo. E pegar um cinema sempre será um lazer agradável, porque agora está sendo permanentemente renovado. 

A profusão de novas telas, com os tablets e principalmente com os smartphones, também contribui para o mercado de streaming. Além, é claro, da expansão e confiabilidade dos pagamentos online. Todas essas tecnologias saíram de dentro da indústria de TI. Que, por outro lado, também desenvolveu sistemas que baratearam muito o custo das produções.

Mas o que o fenômeno Netflix trouxe de mais surpreendente não foi apenas a descoberta dos lares como ponto de exibição. Tornou evidente que o potencial de consumo de vídeo pode superar em muito os níveis atuais. Há uma demanda reprimida. Tanto que a assinatura de mais de um serviço já acontece e vem crescendo.

A conclusão final é de que a atual “capacidade instalada” de produção de conteúdo é pequena diante do potencial de demanda. É isso que torna essas gigantes empresariais, relativamente recém alçadas ao topo do poder econômico, as candidatas naturais a usarem toda a tecnologia que desenvolveram, para mais enriquecerem, também prestando serviços.


O BONDE VAI PASSAR DE NOVO


Netflix, Amazon Prime, HBO Go, Fox Plus, Hulu, Disney, DC Universe, Apple Music, dentre outros. Na medida em que o mundo OTT cresce, vai mudando hábitos. Em todos os países onde existe TV a cabo, uma parte dos assinantes está desistindo dos canais para contratar um serviço de streaming, mais barato e sem programação linear. É o chamado fenômeno cord cutter. Ainda segundo o site UOL, uma pesquisa da Ericsson em 40 países indica que em 2020 apenas uma, em cada 100 pessoas, manterá o hábito de assistir à TV tradicional.

No Brasil a tendência se confirma, mas de forma atenuada. Temos a maior base de TV aberta do mundo, com qualidade e decisiva até para quem assina TV paga. Se não tiver nenhum dos canais abertos no line up, também não vai ter assinante.

Essa primazia gerou hábitos na população. Grandes eventos, como a Copa do Mundo, são adquiridos por alguma grande rede de TV aberta, que disponibiliza para o grande público, sob patrocínios. Esses eventos ao vivo, em outros países, são o principal diferencial das TVs por assinatura. O Jornalismo noticioso é outro trunfo das TVs em geral. Com o New Gen TV, uma mistura da TV aberta com a Internet, as TVs pagas podem estar em risco.

Por trás de todo esse cenário está a certeza de que muitos novos negócios vão ser formatados e enriquecer seus criadores. Uma oportunidade que a tecnologia desses tempos coloca ao alcance de qualquer pessoa. Será que haverá novos brasileiros entre elas? Estamos bem representados na história do Facebook e poderíamos ter um patrício no topo da empresa. O Instagram, “semi-brasileiro”, foi avaliado recentemente em US$ 100 bilhões. Em 2012 foi vendido por US$ 1 bilhão.

De acordo com o Latin Trade, publicação que acompanha as maiores fortunas da América Latina, tradicionalmente os bilionários do continente são principalmente banqueiros, ou mineradores ou donos de fábricas de cerveja e outras bebidas. Mas, no último levantamento, apareceu o nome de um empreendedor da área de TI. É o brasileiro Luís Frias, do Grupo PagSeguro Digital, empresa nascida e até hoje ligada ao Grupo Folha UOL, de mídia.

Hora de esquecer o “complexo de vira lata”. A ordem é colocar o talento pra funcionar, na conquista do olimpo. A história haverá de render até um bom conteúdo para os serviços de streaming.

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