BOTs OU ALIENÍGENAS DOS NOVOS TEMPOS


O homem sempre gostou de “brincar de Deus”. Quer inventar, fazer e acontecer. No começo o desafio era enfrentar as tradições religiosas, impregnadas do primitivismo humano, de obscurantismo. Mas não teve como, as luzes foram chegando e revelando inclusive a nossa natural vocação para o saber, nossa essência “à imagem e semelhança de Deus”. “Não há nada que não deva ser descoberto e revelado a todos”, diz uma citação bíblica.

A grande questão é que não passaram a receita. Que sopro foi exatamente aquele que deu vida ao homem? O que mais foi na massa daquele barro onde Adão foi moldado? À parte da linguagem figurada, que veio de nossos antepassados primitivos, o que nos resta é quebrar a cara em laboratórios, livros, estatísticas, para descobrir ou inventar nossos modestos milagres. Foi assim que o milho nativo se transformou nos grãos amarelos e macios dos quais é feita a pamonha. Frutas ficaram mais doces e suculentas e cachorrinhos mais parecidos com personagens de desenhos animados. Para o bem e para o mal, é assim a gênese que podemos escrever.

No atual limiar dessa divindade desajeitada que podemos ser, entre os destaques está a inteligência artificial. Os bots, nome mais atual dos mitológicos robôs, precisam se tornar uma marcante presença humanoide na sociedade. E já estão convencendo! Bem discretamente, trocando mensagens escritas, como fazem os chatbots. Esses sistemas de conversa por texto estiveram entre os principais assuntos da MWC-17, em Barcelona.

FALTA VIRAR UM BOM NEGÓCIO


Já faz um bom tempo que um chatbot conseguiu convencer interlocutores de que era humano. No verão britânico de 2014 a Universidade de Reading organizou um evento na Royal Society, em Londres, para testar o software Eugene Goostman. Ele foi desenvolvido pelo pesquisador russo Vladimir Veselov e pelo ucraniano Eugene Demchenko. No teste, cada juiz teve que conversar ao mesmo tempo, através de um chat, com um ser humano e com uma máquina. Depois dizer quem era o computador e quem era o ser humano. Eugene Goostman convenceu 10 dos 30 juízes de que era um menino de 13 anos. O organizador do evento, Kevin Warwick, disse que foi a primeira vez que um software passou nesse tipo de teste. De lá para cá já avançaram muito os vários programas similares, como o Watson, da IBM ou o Google Assistant. Pelo menos no cumprimento das funções. O que ainda precisam ser resolvidos são os detalhes do modelo de negócio que vai chegar ao mercado.

Um chatbot não pode ser concebido com a oniciência capaz de tratar de todos os assuntos. Ele deve surgir por meio de uma plataforma, onde será desenvolvido um aplicativo específico para cada uso. Durante a MWC-17 Rob High, da IBM, afirmou que três tipos de dados são indispensáveis para o desenvolvimento de um chatbot qualquer: dados sobre o assunto para o qual vai ser usado, por exemplo, num call center de determinada empresa; dados para “treinar” o sistema cognitivo de cada aplicativo e finalmente o histórico de conversas, que permite personalizar os diálogos com cada usuário. É o suficiente para que um bot possa relacionar a cada questão uma resposta adequada.

High reclama que os SDKs aparecem nas várias plataformas sem seguir qualquer padronização e isso dificulta a tarefa dos desenvolvedores. Assim fica complicado atender as exigências desse mercado.

OS BOTs QUE SE PREPAREM


Esses indivíduos cibernéticos não vão chegar assim, numa boa, nesta sociedade complicada de carne e osso. Eles vão ter de sentir nos bits o que é ser um membro respeitável entre a massa humana. Por exemplo, zelando pela ética e os bons costumes. Krit Sharma, da empresa Sage, está preocupada com o impacto que essa “convivência” entre bots e pessoas pode trazer para as gerações futuras. Ela quer bots politicamente corretos para interagir com as pessoas.

Bom dia, por favor, muito obrigado devem fazer parte de um mínimo repertório ético, a ser devidamente encaixado nas conversas. Sharma está preocupada até com o excesso de vozes femininas nos assistentes pessoais, como aquela dos GPSs que usamos no carro. O risco seria aumentar o preconceito de gênero.

Se, na Era do rádio as estórias versavam sobre vozes encantadoras pelas quais os usuários se apaixonavam – para depois, em alguns casos, se decepcionarem diante da imagem física – os bots podem trazer inconvenientes bem mais dramáticos. Vamos admitir a possibilidade desses sistemas passarem a ser usados para diálogos mais íntimos, como auto ajuda ou até outros bem menos nobres, caso do sexo virtual. Não será surpresa se alguns se apaixonarem por um chatbot. Pelo caminho que vão usar, a probabilidade não é pequena. Basta olhar para o vasto histórico de casamentos bem sucedidos que começaram em conversas pela Internet.

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