UMA DECISÃO ACERTADA



A consolidação da TV Digital na América do Sul começa a revelar um acerto histórico do Brasil no setor. Quando grupos técnicos e científicos locais consultados pelo governo sugeriram o sistema japonês (ISDB-tb), com as adaptações brasileiras - incluindo o middlleware Ginga - eles estavam traçando um rumo estratégico para todo o continente. Além de dotar da melhor qualidade técnica esse serviço público tão essencial, o Brasil estava abrindo um espaço integrado para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Este foi o cenário evidente durante a feira argentina do setor, a Caper, realizada nos três últimos dias de outubro. A cada edição da feira percebe-se que o SBTVD está se tornando, cada vez mais, um sistema sul-americano. E este é o endosso mais inquestionável da decisão tomada há quase dez anos aqui no Brasil. Durante a Caper, houve uma movimentação de clientes brasileiros tentando conhecer o que os engenheiros argentinos já desenvolveram, com o Ginga, para "interatividade cidadã". É que a TV digital oferece perspectivas de interação entre usuários e canais de Internet, utilizando apenas o controle remoto. Isso permite que governos desenvolvam plataformas para serviços públicos on-line, como marcação de consultas médicas na rede pública, matrículas escolares, informações sobre recolhimentos trabalhistas, dentre outros. Nesse sentido, a TV estatal argentina já caminhou mais do que o Brasil e agora oferece alternativas para iniciativas semelhantes aqui. Sinal de que, mesmo sendo criadores do sistema, os brasileiros podem contar com apoio no continente para o desenvolvimento de inovações.

Aliás, tudo isso está muito integrado a uma realidade sócio econômica. Nos países mais desenvolvidos a "segunda tela", em tablets e smartphones, acabou aumentando as possibilidades de interatividade com a TV. Microcomputadores são muito mais presentes nas casas e a banda larga de Internet está praticamente universalizada. Do lado de baixo do Equador é tudo muito diferente. A possibilidade de transformar um simples aparelho de TV num terminal de acesso a Internet - adaptando apenas um set-top box - é uma preciosa alternativa. Tanto que a estatal EBC - Empresa Brasil de Comunicação, tenta implantar o "Programa 4D", voltado para atendimento de famílias de baixa renda.

Além de ser o organizador do sistema de TV digital, o Brasil tem a particularidade de ser o único país da América do Sul onde o idioma é o português, e não o espanhol. Isso faz com que a Caper, em solo portenho, deixe mais à vontade boa parte dos técnicos de países vizinhos. Um termômetro mais fiel da onda digital na engenharia de televisão sul-americana. O sinal "quadrado" já cobre todos os países da região com a tecnologia adotada pelo Brasil - exceção da Colômbia e do Panamá, que adotaram o sistema europeu (DVB). Porém, na maioria dos países do continente, o sinal digital ainda não está universalizado. Em alguns casos, só as TVs estatais já adotaram. Por isso, o cenário é semelhante ao que vivia o Brasil há 5 anos ou mais. Isso significa que há muito a ser feito no setor. Tanto no que diz respeito ao suprimento de equipamentos para implantação do sinal, como no desenvolvimento de sistemas de interação social baseados em aparelhos de TV.

A televisão, depois da tecnologia digital, passou a ser um nicho específico de desenvolvimento e pesquisa. Com a especial vantagem de que essas possibilidades acontecem nos mais diversos níveis, acolhendo diversos gradientes de desenvolvimento. A importância das soluções encontradas pode ser maior mesmo nos níveis mais modestos de pesquisas. Por isso, eventos como a Caper, como a Feira da SET aqui no Brasil, devem ganhar mais importância a cada nova edição.

Numa visão mais regional, uma certa concorrência entre governos pode ser muito útil a essas pesquisas. Por exemplo, no caso do programa 4D. É visível o desinteresse do núcleo do governo brasileiro pela implementação do programa no nível em que está sendo proposto pela EBC. Mas, o desconforto de ver técnicos brasileiros buscando soluções argentinas, baseadas num sistema desenvolvido aqui, coloca as autoridades locais em cheque. Os custos e a eficiência desses sistemas de interatividade cidadã podem ser um diferencial eleitoral para governos sul americanos. Clientes governamentais passam a ser importantes para projetos de empresas de tecnologia de TV baseados no sistema brasileiro, o SBTVD.

Comentários

  1. Nao concordo com a afirmacao de Argentina caminhou mais do que o Brasil no Ginga. o projeto Brasil 4D da EBC, citado no artigo, e do qual a EiTV faz parte. O projeto brasileiro e uma inovacao que utiliza convergencia entre HTML e audio visual alem de interatividade plena com canal de retorno com base no desenvolvimento do Ginga avancado, ou Ginga 3.0. Este desenvolvimento, unico no mundo, por enquanto, ja rendeu reconhecimento nacional e internacional com os premios Criativity and Inovation (CBS , New Yook), Premio Frida, IGF alem de dois premios SET. As conversas na CAPER com a INVAP, ARSAT, Universidade de Palermo e Universidade de Cordoba atestam o interesse argentino em progredir no Ginga e de estudar a implantacao em seu pais deste programa

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    1. Endossamos totalmente as afirmações sobre o brilhante "Projeto Brasil 4D", da EBC. Contudo, convenhamos que ainda se trata de um projeto. Ao afirmarmos que "a TV estatal argentina já caminhou mais..." estamos falando de uma televisão digital pública que já cobre todo o país com cerca de 82 estações de retransmissão terrestre em operação, 7 estações em implantação, além da possibilidade de recepção via satélite nas áreas rurais não cobertas pelo sinal terrestre. A TV Digital Pública Aberta Argentina transmite atualmente 17 canais digitais com cobertura nacional, além de canais locais em algumas cidades, todos com capacidade de transmissão de interatividade, bem além do que temos hoje no Brasil. O governo argentino já distribuiu 1 milhão e duzentos mil receptores de TV digital terrestre para a população de baixa renda e instalou cerca de 17 mil antenas de recepção satelital em escolas e outros lugares em áreas rurais e de fronteira. Uma realidade que está abrindo a oportunidade de desenvolvimento de aplicativos sofisticados por parte de empresas privadas do setor em todo o continente. Maiores informações em: www.tda.gob.ar

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