ESTE MAR É MEU



Se tem um lugar da indústria audiovisual que o streaming destruiu, esse lugar se chama zona de conforto. Não tem mais ninguém sossegado por trás das telas de qualquer tamanho ou natureza. Os “barriga gelada” – de tanto friozinho na barriga – correm o tempo todo, mas não sabem exatamente para onde. A cada mês, mês e pouco, acende algum alerta tipo “TV linear vai acabar”, “salas de cinema vão acabar”, já especularam até o fim dos televisores pela “praticidade” das telinhas mobile. Seja pelo streaming, ou por qualquer outra tecnologia/modelo de negócio inovador que possa surpreender o mercado, convém não descartar nenhuma das hipóteses.

A questão é que esse modelo de negócio usa uma tecnologia – a banda larga – que já vem crescendo há muito tempo. Hoje a banda larga é a própria Internet, esta mesma que é o espelho de Harry Potter, onde o mundo real mira seus desejos. Portanto, um recurso consumido quase em escala alimentar. A Internet é tão popular a ponto de o acesso à rede ser considerado um dos mais relevantes desafios da cidadania neste século. Um indicador de que a entrega de audiovisual pelo streaming não tende a encarecer, muito pelo contrário. Some-se a isso o fato de que os centros de desenvolvimento mais avançados logo produziram suas plataformas de streaming. A EiTV CLOUD está entre as primeiras plataformas do tipo no Brasil, surgida fora das grandes plataformas mundiais. Porém, voltada à diversos segmentos de nicho, como provedores de Internet, infoprodutores e instituições educacionais, que demandam muito mais casos de uso de maior complexidade.


Então ficou assim: a oferta se expandindo rapidamente, muito mais do que filmes e séries; e o mercado testando seus próprios limites. Os consumidores são assediados por vários fornecedores e os grandes começam a perder assinantes. Crescer agora para onde? A resposta parecer estar no modelo da TV aberta. Quem vai pagar agora é o anunciante, “como sempre fizeram lá no Brasil.”


Originalmente, a TV nasceu assim, um serviço aberto. O elevado nível de exigência do mercado americano fez com que o sinal trafegasse pelo cabo. Quando essa infraestrutura cresceu nas cidades, surge um novo modelo de negócio, baseado no uso de todo o potencial daquele cabo. O sinal da TV trouxe muito mais conteúdo, mas ficou num ambiente fechado. Quem quiser, que pague. Depois de mais de meio século as infraestruturas de entrega desse conteúdo evoluíram muito. Alta qualidade, praticidade e custo reduzido pelo maior rateio. “E então, como é mesmo aquela conversa de TV aberta, paga por anunciantes?” As vantagens são muitas, os sistemas avançaram, diminuíram preços e aumentaram de forma brutal a base de clientes. Dá para vender anuncio barato para a padaria do bairro. A ideia é de que todas as padarias, de todas as cidades cobertas por uma emissora, possam anunciar para os respectivos bairros, ao mesmo tempo. Não pesa pra ninguém e a rubrica “padaria” vai ficar milionária no cadastro da emissora.


Tudo bem, só que essa empresa aí, que opera tudo isso, não se parece em nada com a Neflix, com a Amazon, a Disney, ... Cada uma delas está em mais de 100 países, têm expertise voltada à criação e produção de conteúdos sofisticados. Vendem produtos muito simples – os pacotes – pela Internet ou por telemarketing. Sempre foi o consumidor que veio atrás, se virava sozinho. Se tiver que vender anúncios, a coisa complica um tanto. Quantas padarias existem em 100 países? No meio desse desafio, as agências de publicidade querem sentar com cada cliente para harmonizar cada anúncio com o conteúdo. Querem mudar a publicidade no audiovisual, até para se manterem no mercado. Os pequenos, aqueles mais humildes (as padarias...) não respondem a apelos desse tipo. Então, como é que fica?


Nessa disputa, as grandes operadoras de streaming são as mais poderosas. E se tornam vítimas do próprio gigantismo. Não têm capilaridade, não sabem nem quem são os potenciais clientes. “Ah, que bom seria se a TV linear desaparecesse de uma vez”, devem pensar. Parece que estão apostando nisso. A Netflix já está pronta para entrar ao vivo. Shows, grandes eventos, principalmente esportes. A mídia especializada já começa a repercutir o sucesso do Jornalismo no streaming. Tudo no modelo FAST, sustentado por anúncios. Até onde irá esse duelo? Será que o Campeonato Brasileiro de Futebol só vai chegar pelo streaming? Ou será que o SuperBowl vai ser exclusivo de alguma TV aberta americana?


Uma hipótese a ser seriamente considerada é a migração da disputa para o hardware. Quem sabe uma evolução da smartTV, esses “computadores com telas enormes? Algum novo recurso, um dispositivo diferente, que precise mais do que um software para funcionar. Do jeito que está, as coisas estão ficando muito confusas para serem resolvidas com o que já tem por aí. Alguma coisa nova deve chegar com a evolução das tecnologias de Inteligência Artificial. Mas isso é assunto para um outro post deste blog.

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