A “SOCIEDADE DIGITAL” PODE NÃO SER SOLITÁRIA



Copa do Mundo, no Brasil, é tudo de bom! Primeiro porque nunca o nosso time esteve fora de alguma Copa. E uma das consequências disso é que virou hábito a cada quatro anos e ganhou ares de celebração. Famílias, rodas de amigos, turmas de trabalho se unem para, pelo menos em uma única condição, torcerem todos pelo mesmo time. Que bom quando todos os cantos da sala são de um mesmo time! O que poderia então tornar essa sala menos aconchegante?

Um estudo divulgado hoje pelo site iPNews mostra que a preferência manifestada por metade do público jovem, de até 35 anos, é assistir à Copa em dispositivos móveis. O estudo foi realizado pela Amdocs, empresa de software de origem israelense, focada em negócios e segurança digital. Foram ouvidos 600 jovens no Brasil e no México, dois países onde Copa do Mundo tem muita importância. Será que cada um prefere assistir aos jogos sozinho?


Os motivos que levam essas faixas etárias a optar por não assistir aos jogos pela TV da sala não foram comentados na matéria. Talvez o estudo não tenha abordado isso, temendo o risco de obter “sei lá” como imensa maioria das opiniões. Mas aquele ambiente tão atraente, normalmente abastecido com petiscos e cerveja, não deve ser o motivo. O hábito, aí sim, dá pra apostar que tenha maior peso. Essas gerações são nativas digitais e, entre eles, muitos cresceram com smartphones e/ou tablets na mão. Bom ou ruim, isso é um fato. Assistir a um conteúdo qualquer num dispositivo móvel é uma experiência diferente. Tem interação, contatos com pessoas por outros aplicativos, memes. Tem várias oportunidades para ser surpreendido e também para surpreender pessoas. Para parte dessas pessoas isso começou quando estavam entre a infância e a adolescência e permanece até hoje. Talvez o ambiente tenha um efeito semelhante ao que acontece no ambiente escolar. Rapazes de 17, 18 anos, com barba na cara, muitas vezes brincam um com outro como nos tempos de criança. Um comportamento que pode parecer estranho, mas é muito comum para aquele ambiente. Em todas as idades.


O streaming é um espaço novo na sociedade. Criou hábitos como maratonar séries, ficar em casa. Um “ambiente” que é cuidadosamente preparado por uma pessoa, mesmo que ela escolha receber mais alguém. Deve ser raro maratonar uma série em família. Daí a importância dos dispositivos móveis, onde cada um escolhe seu conteúdo e instala o ambiente streaming onde lhe parecer mais adequado.


A arquitetura não mostrou ainda algum interesse por esse ambiente. Possivelmente não vai se ocupar disso, pelo menos com os instrumentos que usa hoje em dia. É que o ambiente é virtual. Fica difícil acrescentar qualquer coisa quando o lugar é construído a partir da reação mental de cada pessoa a um conteúdo que ela escolheu. Mas, que o streaming está se tornando um lugar especialmente íntimo para muitas pessoas, parece cada vez mais evidente.


Outra questão curiosa a ser considerada é que essa intimidade não é solitária. E aí entra uma polêmica que já começou há um bom tempo mas ainda não teve uma resposta mais elaborada. Quantas críticas são lançadas por conta das pessoas com os olhos fincados no celular, em vários ambientes públicos... “Uma sociedade cada vez mais solitária, isolada”. Será? Por meio daquele dispositivo, na quase totalidade das vezes, as pessoas estão interagindo com outras pessoas. Às vezes em tempo real, outras vezes assistindo ou lendo conteúdos que foram compartilhados. Ali não está acontecendo nenhum isolamento. Quem disse que o público que assiste a jogos de futebol pelo celular também não está na sala onde a maioria acompanha pela TV?


O que precisa ser corrigido, de fato, são outros problemas. Durante o estudo da Amdocs 46% dos brasileiros e 41% dos mexicanos ouvidos, declararam não confiar nas suas redes móveis. Entendiam que corriam riscos em tentar acompanhar  um evento tão importante, na dependência dessas redes. Ao comentar esse detalhe Gil Rosen, Diretor de Marketing da Amdocs, disse que as redes nos dois países são confiáveis. Porém, em se tratando de um atributo psicológico – a confiança – caberia às operadoras divulgar mais as qualidades dos serviços que prestam. É bom lembrar que a Amdocs tem especial experiência com essas empresas de serviços de conexão.


Se Rosen estava sendo 100% marqueteiro ou se ele estava se baseando nos dados de seu “quadrado”, enquanto prestador de serviços para essas empresas, fica difícil saber. Mas conviria que ele conhecesse as discrepâncias na qualidade das conexões pelas várias regiões do Brasil.

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