A CRISE EXISTENCIAL DO STREAMING


Tão jovem e já enfrentando esse tipo de dilema! O streaming, enquanto negócio, pode-se dizer que surgiu junto com a Netflix. Pouquinho mais de dez anos, um monte de recordes e marcas inimagináveis. Também por conta dos fundadores da Netflix, que foram muito além da proposta inicial. O streaming seduziu de forma arrebatadora todos os grandes players globais do entretenimento. E trouxe de vez aquelas empresas altamente capitalizadas que ensaiavam entrar no lado feliz da vida das pessoas. Nesse período tão curto cresceu a ponto de se tornar um negócio maior do que todos da sua vertical. Ultrapassou a TV a cabo, a TV aberta, o cinema, engoliu as locadoras como uma azeitona sem caroço, driblou as programadoras, distribuidoras e todos os tipos de atravessadores pelo caminho. Agora parece querer se auto afirmar (coisa de adolescente). Seria com uma denominação mais chique do que simplesmente o nome do procedimento técnico? Começaria com um protesto tipo “-Streaming é o ... é o plug in, seu babaca.”? Até o glamouroso OTT – Over The Top, por algum motivo, não vingou como denominação exclusiva.

Idiossincrasias a parte, o streaming quer mostrar a que veio. Não se trata de mera soberba. Quem fez o que todos vimos ao longo de uma década em transe, tem o direito de sonhar alto. O serviço já sonhou que seria ele próprio toda a TV do futuro e ponto. Até hoje tem gente acreditando nisso. Agora a realidade é outra, as empresas do setor estão se encontrando com as primeiras ameaças à sobrevivência. Começou com a queda no número de assinantes da Netflix, a primeira, ainda no primeiro semestre. O reflexo no mercado de ações foi quase traumático. Depois foi a perda do primeiro lugar no mercado as plataformas da Disney. E agora estão crescendo as previsões – e anúncios – de grandes cortes orçamentários em todo o setor.


A Netflix se viu obrigada a romper algumas resistências históricas. Já agendou, para o começo de 2023, o primeiro evento global ao vivo da empresa. Não é piada, mas é quase isso. Um especial de comédia estrelado por Chris Rock. O vice-presidente de formatos stand-up e comédia da empresa, Robbie Praw, anunciou o evento como marco histórico. Valorizou quanto pode, disse que “Chris Rock é uma das vozes cômicas mais icônicas e importantes de nossa geração.” E ainda, que “este será um momento inesquecível e estamos honrados por Chris estar carregando esta tocha”.


Mas tudo indica que se trata de um laboratório. O formato live é o único que funciona para eventos esportivos, um campo que a Netflix negligenciou enfaticamente até experimentar um segundo lugar. Não apenas a Disney, com a ESPN, mas outras plataformas de streaming até menores, estão ganhando com eventos esportivos há alguns anos. A essa altura dos acontecimentos, ninguém que possa ser considerado um grande serviço de streaming, pode se dar ao luxo de escolher o que vai oferecer ao público. Outro desafio do setor, talvez até mais grave, é o que as plataformas Disney estão vivendo: a lucratividade. Há uma semana os executivos seniores foram avisados sobre um grande programa de “gerenciamento de custos”. O CEO Bob Chapek, no mesmo e-mail, já explicou como se faz isso. Falou sobre cortes de gastos, de pessoal e freio nas contratações. “Teremos que tomar decisões difíceis e desconfortáveis. Mas isso é exatamente o que a liderança exige”, concluiu.


Numa vibe diferente, torcendo pelo sucesso de todos, o Roku está ampliando a área de atuação principalmente com canais FAST, os gratuitos, mantidos por anúncios. A plataforma não gera programação. É um sistema operacional que dá acesso aos principais serviços de streaming e tudo mais que possa compor uma programação totalmente on demand. Quem acessa o The Roku Channel pode escolher noticiário em espanhol, compras ao vivo QVC e HSN, séries como Mad Men, The Walking Dead e até uma seleção dos programas de maior sucesso na TV da Coréia do Sul. Bem eclético! Tem ainda canais de personalidades famosas, esportes e de segmentos específicos, como gourmet ou programas para a comunidade negra.


O cenário atual do streaming demonstra claramente que o serviço já conquistou um lugar próprio no entretenimento. É um caminho sem volta. Falta descobrir como ganhar dinheiro com isso. Com menos dinheiro e menos pessoas, a ênfase não deve ser na qualidade. Talvez uma produção mais direcionada. Novos modelos de negócio estão surgindo, mas até agora nada indica que algo vai tomar totalmente o lugar das TVs lineares, nem a cabo, muito menos a aberta. Todos terão de conviver. Como isso vai acontecer, fica por conta dos “algoritmos” mentais empreendedores que rodam por aí.

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