O QUE MELHORA NA VERSÃO DIGITAL?


“-Quem falou!??”

Quando se ouve essa pergunta é porque alguém não está acreditando em você. Então, hora de citar a fonte. Só que não. A profusão de mídias torna difícil lembrar de onde veio. Antigamente dava pra lembrar até onde você estava na hora que recebeu a informação. Para ler jornal tem que se acomodar, folhear aquelas páginas enormes, mexer a cabeça pra cima e pra baixo. No rádio a mensagem é só ouvida. E na TV é audiovisual, outro ambiente. Um diferente do outro, a memória se confundia menos. 


Hoje, em cada mídia – agora, praticamente todas eletrônicas – se lê, ouve e assiste a vídeos. Comenta por escrito, às vezes em vídeo, lê comentários de outros, interage em tempo real com likes, vota em enquetes. E o mais curioso, além de se informar, você também se desinforma.


A indústria da desinformação é antiga. Ficava por conta de jornais e revistas sensacionalistas, colunas de fofocas sobre a vida de famosos, alguns programas policiais recheados de exageros. Somados, eles tinham um espaço na audiência limitado a poucos pontos. Na atualidade, dá para arriscar, como palpite, que a massa de informação é praticamente igual à de desinformação. Se é bom ou ruim, é outra discussão. Parece mesmo que o ser humano tem uma certa necessidade de encontrar quem diga o que ele quer ouvir. Mesmo sabendo que na realidade é diferente, “mentiras de qualidade” são confortáveis. Espaço de publicação é o que não falta.


A agência de comunicação Marco divulgou uma pesquisa apontando quais são as mídias mais acessadas na atualidade. Foram ouvidas 14.200 pessoas entre Europa, América Latina, África e Estados Unidos. A metodologia utilizada considerou que, em geral, as pessoas acessam várias mídias. A pesquisa tentou apurar uma ordem de preferência do público. Os dados apontam que, no Brasil, a TV ainda lidera. Foi citada entre as mais acessadas por 73% dos entrevistados. Porém, o WhatsApp está praticamente empatado, com 72%. Em seguida vem o Instagram, com 68%, e só depois aparecem os jornais on-line, com 61%. Rádios têm 44% e jornais impressos, 15%. Os podcasts estão crescendo no Brasil e uma folgada maioria dos brasileiros já sabe o que é o Metaverso.


De acordo com o site TelaViva um dos objetivos da pesquisa foi medir o quanto a pandemia de covid acelerou a digitalização e mudou hábitos de consumo de informação. E é aí que se vê o crescimento da desinformação.


As mídias tradicionais cresceram no Brasil sob leis que responsabilizam civil e criminalmente, por eventuais desvios, seus gestores e profissionais. São empresas com identidades únicas, endereço fixo e contas bancárias ao alcance do Judiciário. Muito arriscado dar grande destaque para fofocas ou noticiar sem provas concretas de tudo que é afirmado. Publicar era ato personalizado, de acesso muito restrito e custo muito elevado.


As redes sociais, os aplicativos de mensagens, colocaram o ato de publicar ao alcance de todos e de ninguém. Caso dos robôs, por exemplo. As mídias tradicionais avançaram no espaço digital, mas perdem de longe para futilidades e outras desinformações. E não há nenhuma catástrofe aí. Falta apenas as pessoas compreenderem que é assim o mundo em que vivemos desde sempre. Há 50 anos já existiam jornais impressos, também falados e televisionados. E, assim como hoje, a imensa maioria das pessoas não liam, nem ouviam, ou os assistiam. Preferiam dedicar mais tempo a ouvir, da boca pequena, o que uns achavam e falavam sobre a vida de outros. Isso incluía de vizinhos a magistrados da suprema corte. Agora, também para a maledicência artesanal, feita no bairro, usa-se canais eletrônicos poderosos, de escala industrial. Onde se encontra também muitas piadas, pornografia, futilidades. Deve ser difícil saber se o ciberespaço torna a sociedade pior ou melhor. Muito provavelmente ele é uma lente de aumento em cima de tudo que já existe há muito tempo.


Autoridades policiais já comentaram publicamente – com certo constrangimento – algo que pode se considerar até uma “vantagem” do crime cibernético. Na comparação da invasão de uma casa, com a invasão de uma conta bancária na internet, qual lhe parece mais violenta? Qual representa maior risco à vida? A conclusão vai valer tanto para a vítima, como também para o criminoso. Se isso é bom ou ruim, mais uma vez, a discussão é outra.


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