O STREAMING E O NOVO FILME DA ECONOMIA

 


O motor a combustão parece ter sido o centro do ciclo econômico mais vigoroso da história até agora. Ele cresceu a partir de um arranjo entre uma infraestrutura onipresente e uma solução que convenceu a todos. Essa solução demandava aprimoramentos de quase todos os outros setores da economia. O fator sorte foi a disponibilidade de uma comoditie que reuniu condições extremamente favoráveis a esse arranjo, o petróleo.

Ao observar os rumos da economia a partir da Segunda Guerra essa tese fica bem visível. Henry Ford já tinha enriquecido com a produção de carros em série e mostrado que seu gadget equipado com motor a combustão – a solução que convenceu a todos – poderia ser massificada. Essa indústria crescia vertiginosamente no mundo todo e, durante a Guerra, fez surgir engenhos decisivos, todos com motor a combustão: tanques, aviões de caça, bombardeiros, grandes embarcações, submarinos, ... O petróleo era abundante nos Estados Unidos e foi aparecendo em grande quantidade por toda parte. As fontes produziam em altíssima escala, os estoques não precisavam de refrigeração ou outro tratamento especial que encarecesse. E ainda, fornece uma imensidão de sub produtos para os mais diversos fins. A grande infraestrutura foram as vias e pontos de abastecimento de veículos.


Desde então, daí surgiram as mega corporações industriais e os homens mais ricos do mundo. Em meados da década de 1960 o maior PIB do planeta eram os Estados Unidos. O segundo maior era a Inglaterra. E o terceiro era a General Motors Company. Trinta anos mais tarde, no Brasil, mais de 60% dos empregos ainda eram gerados direta ou indiretamente pela indústria automotiva.


Nos dias atuais – quando o motor a combustão ainda tem um papel central na economia – quem está assumindo essa primazia são os chips ou semicondutores, que são componentes programáveis. Uma solução que convence a todos e demanda aprimoramentos vindos de muitos setores da economia, como microcomputadores, telecomunicações, câmeras, automóveis, televisores, drones, instrumentos cirúrgicos, relógios, armamentos, ... A grande infraestrutura é a Internet, muito mais barata, mais simples e, cada vez mais eficiente, se comparada às vias físicas. Ela é a grande esperança até para a gestão das redes viárias de asfalto. O que não tem nesse arranjo é alguma comoditie que possa representar um fator sorte fixo.

O fator sorte hoje, por exemplo, é o vídeo. As grandes corporações do momento – que já são todas constituídas em torno de semicondutores – estão tentando se engajar de alguma forma no mercado de vídeo. Em torno dele, que tem o streaming como embalagem, estão as gigantes Apple, Amazon, Microsoft, Google. O Facebook, que era o quinto desse grupo, neste momento, cede lugar à Netflix e grandes estúdios de Hollywood.

Os últimos acontecimentos corroboram essa linha de raciocínio. Depois de 10 anos ininterruptos de crescimento a Netflix, que puxou o desenvolvimento de toda cadeia econômica em torno do vídeo, resolveu testar o modelo de streaming mais barato com publicidade. Essa indústria, que já se digitalizou, hoje depende totalmente de sistemas de endereçamento, sincronizados com os perfis dos consumidores. Uma tecnologia sofisticada, inventada pelo Google, que depois se alastrou por outras empresas. A expectativa era de que o Google seria escolhido como parceiro da Netflix. Porém, a Netflix acaba de anunciar a parceria com a Microsoft.

Em artigo publicado no site Teletime, os advogados Ygor Valério e José Maurício Fittipaldi atribuem a escolha, dentre outros motivos, ao fato de a Microsoft ser uma empresa somente de tecnologia, sem acumular produção de conteúdo, como o Google. Ademais, a capilaridade da Netflix no varejo, seria um grande fator de interesse para o segmento de games, onde a Microsoft já atua e tem projetos. Por conta disso, no vastíssimo campo de possibilidades que se abre, o Google pode estar pensando em entrar para o mercado de vídeo. A Apple já deu alguns passos nesse sentido porém, está moderando seu ritmo. Amazon já está assumindo grandes estúdios e a Disney, conteudista nata, cresce rapidamente. A modalidade de streaming está apostando também no AVOD, uma alternativa para manter clientes nesses tempos de pós pandemia e guerras de embargos econômicos.

Outras tendências passam a ser cogitadas a partir do novo arranjo. Uma delas é que as grandes do streaming assumam o provimento de banda larga. É bom lembrar que as mega corporações digitais, há alguns anos, estavam testando seus carros. Um segmento no qual não tinham nenhum expertise. Elas congelaram seus protótipos, no entanto a Tesla, surgida dos semicondutores e sem experiência anterior no mercado de veículos, esta surpreendendo. Sinal de que os componentes programáveis continuam crescendo como principal agregador da economia. Agora o grande negócio é o vídeo. Foi o fator sorte da Netflix, que soube muito bem como dinamiza-lo. Independente da próxima onda, o vídeo tende a se manter entre os principais negócios da economia.

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