O GUARDA CHUVAS E AS TEMPESTADES RECENTES



Segurança é uma palavra forte. Quando se ouve ou lê essa palavra é hora de pensar melhor. Ninguém inventa eufemismos de segurança para pegar mais leve. A palavra tem o efeito preciso de fazer pensar, antes de, eventualmente, fazer correr. 

Ela tem sido estrategicamente usada para tratar de suficiência, o que envolve necessariamente uma certa dose de eficiência. Por exemplo, a segurança alimentar aponta para o nível suficiente de alimentos para uma população. E a qualidade média desses alimentos deve garantir que, daquela provisão, seja possível obter comida para aquela comunidade continuar vivendo. O mesmo para segurança energética, segurança fiscal, segurança jurídica e tantas outras. Nos últimos anos a segurança que se impôs foi a econômica. Aquela suficiência tão setorizada, pareceu dar um pulo para um quesito bem mais genérico.


Segurança econômica é o retorno que a Samsung espera de investimentos anunciados nesta semana. Até o ano de 2026 serão US$ 356 bilhões destinados para “tecnologias de próxima geração”, principalmente fabricação de semicondutores. Outra área de destaque para esses recursos será biofarmacêuticos. Esses investimentos da Samsung não serão todos na Coréia do Sul, país sede da empresa, e a expectativa é de que gerem 1,07 milhão de empregos.


A Economia, enquanto ciência envolvida na gestão da escassez, é sempre lembrada pelo instrumento corrente de reserva de valor, que é o dinheiro. O noticiário econômico fala em dólar, euro, won, real, peso, rublos, iene, ... São os meios de troca para garantir os recursos necessários. No entanto, quando o mundo inteiro precisou de uma simples máscara cirúrgica no rosto de cada adulto, nenhuma dessas moedas foi eficiente. O recurso em sí – que era a máscara – não existia na quantidade necessária. A segurança econômica não garantiu suficiência no provimento do recurso, independente da quantidade de moeda estocada. Por conta da mesma situação – a pandemia de coronavirus – a opção “estratégica” de concentrar a fabricação de semicondutores na China, levou prejuízos diretos e indiretos para a indústria no mundo todo. Não por acaso a Samsung anunciou que, no caso dos semicondutores, 80% dos investimentos previstos vão ficar na Coréia do Sul.


Mais emblemático em relação a esse tipo de situação foi o anúncio de Nadia Calvino, Ministra da Economia da Espanha. No mesmo dia em que a Samsung pautou seus investimentos, ela previu US$ 13,12 bilhões (ou 12,25 bilhões de euros) para a produção de semicondutores e microchips. E o dinheiro vem justamente das sobras de fundos que a União Europeia destinou para o enfrentamento da pandemia. Cerca de 75% do valor vai para a construção de fábricas desses componentes.


No período mais agudo da crise as fábricas da Volkswagen e da Renault, na Espanha, tiveram de paralisar parte de suas linhas de produção. A ministra espera que a partir desses investimentos o país “... desempenhe um papel relevante neste campo tecnológico.” Enquanto isso, a única fábrica de semicondutores do Hemisfério Sul – a estatal brasileira Ceitec, que fica em Porto Alegre-RS – está sendo fechada. O governo federal reclama que até agora a empresa não deu lucros. Pelo contrário, assinalou um prejuízo de R$ 160 milhões. A direção da empresa previa um equilíbrio econômico para esta década, podendo acontecer só a partir de 2025.


A ideia de segurança econômica, portanto, ganha destaque no momento em que as “situações imponderáveis” começam a acontecer com maior frequência. O “guarda chuvas” de providências cresce exageradamente. Até fevereiro deste ano, as forças armadas da Ucrânia não acreditavam numa invasão por parte da Rússia. Mesmo diante do alerta insistente da inteligência americana. A Ucrânia parecia dar mais créditos aos desmentidos de Wladimir Putin. E, de fato, era difícil acreditar que o maior arsenal nuclear do planeta decidisse, por conta dessa condição, ignorar as normas mais básicas do direito internacional e invadir uma nação vizinha.


A gestão dos estoques de suprimentos básicos pode estar passando por uma reavaliação neste momento. Se já não bastasse a imprevisibilidade climática, também a questão sanitária e até a geopolítica estão trazendo surpresas que podem virar de cabeça para baixo o mapa da escassez das nações. Planos de desenvolvimento são interrompidos da noite para o dia por imperativos de sobrevivência, de assistência imediata para as necessidades mais básicas. Fica cada vez mais difícil imaginar os cenários possíveis, na hora de garantir a segurança econômica das nações.


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