A LUTA PARA MANTER A MAJESTADE


Essa história dificilmente o cinema vai contar. É que a empresa em foco não é bem vista pelos grandes estúdios de Hollywood. A chance é, em algum dia, virar uma série de sucesso. O que Netflix construiu em menos de 12 anos é o que se pode chamar de “coisa de cinema”. Principalmente se for levado em conta que, além dela própria, a empresa trouxe ao mercado um novo modelo de negócio, que pôs em plena transformação todo o business entretenimento. É bom que se diga, a indústria armamentista, a farmacêutica e o entretenimento são as atividades econômicas que se revezam no primeiro lugar em movimentação de dinheiro no mundo.


Em princípio, a Netflix poderia ter sido inventada por qualquer um. A oferta de filmes por streaming acontecia como pirataria. Quem ganhava dinheiro assim, não teve discernimento suficiente para perceber o potencial do negócio, se legalizado. Por receio de serem vistos como “otários pagadores de direitos autorais”, deixaram de figurar nas páginas da Forbes. Em compensação, estão na lista de procurados da Interpol até hoje.


Os avanços tecnológicos também influenciaram. Na fundação, em 1997, a Netflix alugava ou vendia filmes em DVDs, via correio. A inspiração, desde o começo, era a Amazon, que começou vendendo livros na Internet via correio. A tecnologia da Sony era considerada nova e a empresa cresceu muito por conta da expansão dos “super CDs”, que comportavam filmes. Até que um dia virou streaming. A dica era baixar pelos consoles de videogames, uma dobradinha eletrônica já bem comum nas salas de TV. Depois veio o 4G, que incluiu as telas de celular, a TV digital, algumas marcas de TV Smart saiam de fábrica com o botão “Netflix”. A cada avanço tecnológico a Netflix dava mais um passo. A fase seguinte foi o boicote. A Netflix também estava preparada quando os olhos dos grandes estúdios começaram a crescer muito.


Foi aí que a empresa surpreendeu de maneira histórica. Dessa parte em diante a invenção da Netflix se tornou algo muito original. Ela passou a fazer parte da indústria da produção cinematográfica. Sim, enfrentou a concorrência de um dos mais poderosos cartéis do mundo. É como se alguém que tivesse uma loja de carros soubesse que a fabricante iria encampar todo o varejo do setor. E, ao invés de vender a loja, o dono resolvesse montar uma nova marca de automóveis. Todos nós vimos a Netflix fazer isso. Se ela se deu bem?? Em novembro do ano passado superou o valor de mercado de The Walt Disney Company e passou a ser a maior empresa de entretenimento da Terra, em valor.


Nesta semana a Netflix anunciou a perda de 200 mil assinantes e antecipou que esse número pode crescer para 2 milhões de desistentes até o final de junho. O mercado reagiu de imediato e os papéis da empresa nas bolsas caíram 24% no Brasil em um dia. Nos Estados Unidos a queda ultrapassou os 35%. E agora?? Seria a queda da gigante? Parece que não.


A Netflix agora tem “apenas” 221 milhões de assinantes em cerca de 190 países. Exceto Rússia. Esse seria um dos motivos da queda de assinantes. Com o embargo, que vem sendo conduzido pelo governo americano, a empresa deixou de atender 700 mil assinantes russos. Outro fator seria o fim da pandemia – ou queda expressiva – o que teria jogado nas ruas milhões de pessoas entediadas após tanto tempo dentro de casa. Tem ainda a pirataria e principalmente, uma concorrência poderosa toda focada na Netflix, a líder, a referência desde sempre.


A propósito, essa concorrência pode ser considerada um dos fatores que sugere um longevo sucesso da empresa. O negócio que ela criou fez com que grandes corporações como Amazon e até Apple – que não atuavam na área – decidissem entrar no ramo. Além das veteranas HBO (líder em TV por assinatura) e Disney (maior força do cinema), que saíram correndo atrás do prejuízo. A Netflix é a líder de um negócio nesse nível. Mesmo diante de todos esses percalços a empresa teve um lucro de US$ 1,6 bilhão de dólares nos primeiros três meses deste ano.


Daqui em diante a reação começa pelos anúncios em streaming, na onda da HBO Max. Talvez seja a primeira inovação surgida no ramo que não foi invenção da Netflix. Contra a pirataria a empresa pensa em lançar licenças ligadas a uma assinatura principal. Uma forma de trazer para o caixa aquele público que pede senhas emprestadas. A estimativa é de que a penetração da empresa seja 50% maior do que o número de assinaturas oficiais. De resto, é só continuar fazendo aquilo que já provou que sabe fazer muito bem.


É de se esperar que, diante de tanta concorrência, a Netflix reduza seu tamanho. O que vai ser difícil é perder a liderança.

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