A MATURIDADE DIGITAL DAS MPEs


Aquela velha estória do sujeito caminhando por uma rua deserta, que tropeça em alguma coisa. Tenta levantar e percebe que o obstáculo era uma garrafa mágica, de onde saiu um gênio. “-Tem direito a um único pedido, o que você quiser.” Do conto original até os zilhões de piadas que inventaram a respeito, a moral da história é sempre a mesma: é muito difícil saber o que a gente quer. O que equivale a dizer que não é fácil saber exatamente do que precisamos.

O irônico está na possível razão de surgirem tantas piadas em torno desse drama humano. É que todo mundo acha que só um ou outro bobão não sabe do que precisa. Dão risada porque se sentem esclarecidos, sabedores de suas necessidades e aptos a assumirem qualquer posição de poder, a qualquer momento.

Não dá para saber exatamente quantos gênios estão aprisionados em suas garrafas por este mundo. Mas, eles que se cuidem! Pois uma resposta certeira está se impondo como uma necessidade ou desejo de praticamente todas as pessoas. E não é nem o dinheiro, é um computador. Se pedir dinheiro, que o computador seja a primeira compra. Muito dinheiro nem sempre resolve. As loterias criam diariamente personagens que enriquecem do dia para a noite. E perdem tudo do Verão ao Outono, pois não sabem administrar. Quando a questão é administrar qualquer coisa, a resposta começa quase sempre por um computador. Por isso todo mundo tem um (celular quase não é mais telefone, está mais para um computador pessoal).

Também no clima de sonhos, de sucesso, há muitos séculos antes do computador, surgiu a empresa, a atitude de empreender. Ela teria o poder de lhe dar controle sobre seu trabalho, remover chefes e patrões de cima de você, com perspectivas ilimitadas de enriquecimento e poder. De fato, ninguém pode negar que isso tenha um fundo de verdade. E um mundo de trabalho, sem dúvida (além de alguma sorte). Eis que, nesses tempos atuais, esses dois escapes em direção ao topo do mundo estão sendo combinados. São as empresas informatizadas. Uma coisa potencializa a outra e então... o seu trabalho rende muito mais. Aliás, foi um gênio que revelou isso. Ele não saiu de nenhuma garrafa. Foi o inglês Adam Smith que, contradizendo o que se pensava na época, mostrou que o que gera riqueza é o trabalho, e não qualquer patrimônio físico, como terras e outros bens.

Nesta semana foram divulgados os dados apurados em uma pesquisa realizada pela FGV Projetos, ligada à Fundação Getúlio Vargas, com o apoio da ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. O tema da pesquisa é a maturidade digital das micro e pequenas empresas (MPEs). De acordo com o site Convergência Digital, a partir de uma amostra significativa se concluiu que, de cada 10 dessas empresas, duas são totalmente analógicas. Não usam recursos próprios de informática para nada. Se considera-las no mesmo contexto das empresas que estão iniciando agora a digitalização – portanto, ainda não obtêm os benefícios dessa tecnologia – pode-se dizer que, no Brasil, entre cada 3 micro ou pequenas empresas, duas não usam o potencial da informática. Só 4% são altamente informatizadas e as 30% restantes estão num estágio intermediário.

E não é por falta de vontade. Sempre considerando o contexto de micro e pequenas empresas brasileiras, 38% delas afirmam não ter recursos para investir na informatização. As que não sabem nem por onde começar são 14%. São empresas que sequer têm capacidade de acessar fornecedores, pessoas que possam orientar o processo de transformação digital. Tem as que não querem informatizar nada, mas são poucas, cerca de 6%. A grande maioria dos empresários que dirigem esses pequenos negócios está aberta à participação em programas para informatização de suas empresas.

A pandemia até botou uma pressão em cima, porém a pesquisa aponta pouco avanço na maturidade digital por conta disso. As empresas se sentiram forçadas a entrar numa disputa sem os instrumentos necessários para tal. Para muitas, não foi uma boa experiência, embora tenha representado uma importante alternativa. Sempre é bom lembrar que são as micro e pequenas empresas que empregam metade da força de trabalho nacional. Elas geram 30% do PIB. Quer dizer, é essa parte toda do Brasil que perde muito por falta da máquina que nenhum gênio ainda veio trazer a elas.

E isso seria só o começo. A pesquisa considerou cinco objetivos das empresas para medir a maturidade digital, numa escala de zero a 100. O objetivo de conectar e engajar clientes somou 44,41 pontos. No entanto, o objetivo de gerar mais valor aos clientes, somou 37,53 pontos. São mais empresas preocupadas em se conectar com você do que as empresas interessadas em lhe gerar algum valor a mais. Falta mais maturidade do que parece.

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