PROMESSAS E PROJETOS NOS NOVOS TEMPOS


“Se você perguntar o que ele faz e ele responder que tem um projeto incrível, fuja!” Era mais ou menos assim o primeiro item de uma pequena lista, numa publicação feminina, para identificar um namorado que não tem futuro. Você já deve ter conhecido alguém cheio de projetos e poucas realizações. Prefeitos falam muito de projetos, também governadores e presidentes. Será que projetos são inócuos?

Desses casos citados, com certeza nenhum deles é, de fato, um projeto. São só sonhos. Às vezes um amigo sonhador garante que tem um projeto e até resolve mostrar para você. Apresenta uma logomarca interessante, com um nome curioso, um desenho ilustrativo bem feito. Nada que aponte um caminho para executar a ideia. Esses sonhos, ou são criados para enganar os próprios autores – casos para Freud explicar – ou servem para tentar enganar os eventuais colaboradores cooptados – casos para a polícia cuidar. Dentre os casos de boa fé, o que chegasse a virar projeto, poderia revelar que aquele sonho não é viável. Outros poderiam, finalmente, transformar o sonho em realidade.

Projeto é, antes de mais nada, uma palavra muito mal usada. Na real, é coisa raríssima de se ver no Brasil de hoje. Tão rara que um executivo brasileiro, de uma grande multinacional, está tentando convencer autoridades federais a fazerem um projeto para o 5G no Brasil.

Por aqui, a quinta geração de transmissão de dados para telefonia móvel, por enquanto, é sinônimo de dois perrengues. O primeiro é a pressão do presidente americano Donald Trump sobre o governo Bolsonaro, para não utilizar a tecnologia chinesa. E o segundo é o chamado leilão de frequências, pelo qual o governo vai disponibilizar, a lances na casa dos bilhões de reais, espaço eletromagnético para as frequências do 5G. É o que as grandes operadoras querem, para em seguida, comprarem os equipamentos no Exterior e colocarem o 5G na prateleira de vendas. O executivo brasileiro da Ericsson, o mineiro Eduardo Ricotta, acha que esse sonho precisa ser melhorado.

Na última terça-feira, durante o Painel Telebrasil, realizado virtualmente, Ricotta propôs que todos os interessados no assunto contribuam para a formulação de um plano, que vai apontar como o 5G pode ser mais vantajoso para o país. Começaria por colocar o Brasil entre os desenvolvedores do 5G, e não apenas como um consumidor a mais da nova tecnologia. Enquanto a grande expectativa é ter no celular uma conexão mais rápida do que os melhores pacotes de banda larga fixa de hoje, Ricotta lembra que toda uma economia está sendo criada em torno do 5G. E isso vai exigir uma infinidade de novos aplicativos. Isso é só o começo. Além da “Internet das coisas” (IoT), que é sempre o exemplo mais citado, a nova tecnologia vai ser fundamental no novo padrão de produção industrial (Indústria 4.0), realidade aumentada, carros ou outros veículos autônomos, realidade virtual, controle em tempo real e muitos outros espaços empresariais. O Brasil tem centros de excelência e desenvolvedores capacitados, em pequenas startups, com condições para produzir para os mercados nacional e de exportação. A começar pelo agronegócio. "Agricultura é 10% do PIB (do Brasil), mas quando se coloca com logística e manufatura relacionadas, é 24%, e é muito pouco digitalizado", lembra o executivo. A proposta inclui escolher outras verticais de negócios no país, nas quais a transformação digital deveria ser acelerada. Isso deve trazer mais mercado para aplicações 5G desenvolvidas aqui. E, como consequência, muito mais produtividade nesses setores.

Há muito o que fazer no Brasil a partir das novas tecnologias. E muitas empresas e especialistas, por aqui, capacitados para isso. O que Eduardo Ricotta propõe é a criação de condições mais favoráveis para que esses extremos se encontrem. Ele citou o índice global de inovação, onde o Brasil ocupa a 62a. posição, muito aquém do que poderia ser. Chamou isso de “spread digital”. O termo parece ser uma maneira mais delicada de se referir ao atraso em que o setor se encontra no país. Em matéria publicada sobre o evento, o site Teletime traz a informação de que, em 2019, foram investidos, só em pesquisa e desenvolvimento para o setor de Telecomunicações no mundo todo, US$ 1,1 trilhão. Por que não pensar nesse negócio?

Ao todo existem 5 tecnologias diferentes para o 5G em todo o mundo. As chinesas ZTE e Huawey – essa última, tida como a mais completa – a sul-coreana Samsung, a finlandesa Nokia e a sueca Ericsson. A transferência de tecnologia tem sido um critério importante para escolhas em concorrências aqui no Brasil. Pode ser que a manifestação do executivo da Ericsson seja uma jogada estratégica para valorizar a escolha da tecnologia deles. O que não deixa de ser uma boa opção também para o Brasil. É hora de pensar no 5G com menos sonhos de consumo e mais seriedade. E com olhos mais ambiciosos no avanço das novas tecnologias.

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