Postagens

Mostrando postagens de 2020

Quem tem medo das telas conectadas

Imagem
A vacina trará a imunidade. E então a pandemia vai deixar o presente para entrar na história. Quem está vivendo esses dias sabe que não vai ser fácil para os historiadores explicarem o que sentimos agora. Descrever esse horror começa por medir as consequências, todas as dimensões possíveis dos fatos. A cara da pandemia vai sair daí, do rastro de prejuízos que ela vai deixar.  Porém, a maior parte desse legado possivelmente será formada pelos avanços conquistados. Pela bênção do saber que emerge dos esforços em busca das soluções. Não só do imunizante, da cura, mas todas as adaptações gestadas para um mundo que, para sobreviver, precisa lutar a cada dia. O trabalhador que descobriu a eficiência e liberdade do home office , o patrão que vai desativar prédios inteiros, pois produzem menos do que os trabalhadores em suas próprias casas. A Covid veio para tirar aquela máscara sisuda que vestíamos na cara todas as manhãs, incomodados que estávamos com tanta gente e agitação. Felizes, mas sem

O tchau da Oi para a telefonia móvel

Imagem
Foram muitos anos de desacertos no atendimento dos clientes, acúmulo de dívidas, brigas na justiça. Foi também um sonho de uma grande multinacional brasileira para varejo, grandes aquisições, investimentos vultosos, negócios arrojados. Por qualquer dos enredos que se caminhe, o desfecho foi um só: nesta semana a Oi se dissolveu entre as outras três grandes operadoras de telefonia móvel Tim, Vivo e Claro, suas antigas concorrentes. Na verdade não foi a Oi que foi vendida dessa vez. A holding reúne um grupo de quase 10 empresas ligadas principalmente a atividades de telecomunicações, cujo carro chefe era a telefonia móvel. O que foi “leiloado” na última segunda-feira foi justamente esse “carro chefe”. A história toda por trás desses fatos mais recentes ainda envolve muitas suspeitas. Em 2016 a empresa entrou com pedido de recuperação judicial, que foi homologado, para negociação de uma dívida superior a R$ 62 bilhões. Quatro anos depois a maior e mais rentável atividade da empresa é divi

Recomendações para tempos difíceis

Imagem
Ele é novo na empresa. Engenheiro formado há pouco tempo, terminou o programa de trainee e foi contratado naquela filial. Era a primeira sexta-feira no happy hour do departamento (antes da pandemia!). O novo chefe estava pra chegar na mesa. Voltou de férias do Exterior e achou melhor reencontrar os amigos no bar, antes da segunda-feira. O cara tem fama de boa praça e foi anunciado como novo chefe na véspera de entrar em férias. “-Olha ele lá!”, anunciou alguém. Aquela festa, abraços, algumas piadas velhas. Até o garçom veio cumprimentar o habittuè . Copo cheio, dois dedos de colarinho e, antes de chegarem os petiscos, o assunto era economia. A conversa começou a esquentar, já tinha política no meio e o chefe decretou: “-Tem que privatizar! Não tem outra solução para o país se não privatizar tudo.” “-Uau”, pensou o jovem engenheiro. “-Esse cara deve saber tudo de economia!” Em geral, engenheiros não entendem nada de economia, mas não sabem disso. Costumam usar observações estatístic

Jeito, tem. O que pode faltar é vontade

Imagem
Uma grande parceria público privada que deu certo no Brasil. Não é aquele modelinho público privado do marketing político, que você ouviu muito nessas semanas de propaganda eleitoral. A tal parceria envolveu entes públicos e empresas privadas para um determinado fim, e funcionou. Então é ppp sim, questão de uso específico de certos termos. Assim como o Skank, o Jota Quest, ( ... ), tocam tipos de músicas muito bem aceitas nas camadas populares brasileiras, mas que não podem ser chamadas de MPB. É oportuno falar disso pois, na edição anterior deste blog, o desmazelo na administração pública brasileira foi citado várias vezes. Fica parecendo que não tem solução. Mas tem, sim, e o caso dessa ppp é uma prova. Tem suas imperfeições, tanto que fez parte das críticas da edição anterior. Mas foi possível chegar a uma solução nesta semana. Caso que começou em 2013, vale relembrar agora a história toda. Na época, o 4G estava chegando ao Brasil e a TV saía do analógico para o digital. A faixa de

Mundos e fundos na administração pública

Imagem
“-Não tem dinheiro pra nada.” A frase mais pronunciada por políticos – depois de reeleitos, é claro – nas três esferas de governo, convive inexplicavelmente com um problema peculiar da administração pública brasileira: o que fazer com o dinheiro? Quer dizer, com sobras de dinheiro, de taxas e contribuições. Na semana passada ficou decidido que, o R$ 1,4 bilhão que sobrou das compensações pela troca de banda da TV Digital, vão ser utilizados para construção de uma rede de fibra óptica para a Amazônia, integrando a Região Norte. Um mundo diferente em relação ao resto do Brasil, onde as condições de vida são muito diferentes. As compensações passaram pela distribuição gratuita dos conversores domésticos, para sinal da TV digital, às famílias de baixa renda. Outros investimentos voltados para a TV digital também saíram dessas compensações. E ainda ficou essa sobra. Outra verba foi destravada nesta semana com a aprovação, pelo Senado, do uso de recursos do FUST – Fundo de Universalização do

O poder que emana contra o povo

Imagem
Depois de uma semana à espera dos resultados das eleições americanas, precisamos esperar seis “intermináveis” horas para saber os nomes de mais de 40 mil vereadores eleitos, nos 5.570 municípios brasileiros, mais cinco mil e tantos prefeitos e algumas centenas de candidatos que vão disputar um segundo turno nas maiores cidades. Falando assim, até parece... A tecnologia da informação está se tornando algo cada vez mais acessível, tanto do ponto de vista de custo, como de operação. Muitos países não ricos, e até pobres, podem escolher soluções para as mais diversas áreas, utilizando recursos de TI. Assim como muitas micro e pequenas empresas também podem digitalizar seus processos, mas não o fazem. Gastam muito mais, perdem várias oportunidades, por não saberem como acessar as novas tecnologias. No Brasil, pode ser que alguns grupos não gostem da agitação típica dos períodos eleitorais. Mas os políticos amam. E é em algumas dessas mãos eleitas que estão as canetas que decidem e pagam. En

ALGUÉM JÁ “ROBÔ” SEU EMPREGO?

Imagem
Olhe bem para o seu carro. De cada três parafusos que você vê, um foi apertado por um robô. É só uma maneira figurativa para dizer que, em média, cada produto industrializado no Brasil é resultado de apenas 67% de trabalho humano. Os outros 33% ficam por conta das máquinas. Considere essa proporção em toda a estrutura que está por traz da produção de cada item. Sabendo disso o susto é menor. Porque daqui a 5 anos, portanto, em 2025, no Brasil, 53% do trabalho na produção industrial será fruto da atividade das máquinas e só 47% serão trabalho humano. Quer dizer, se a coisa vai ficar bem complicada, não será tão mais complicada do que já está. Os números fazem parte de um relatório do Fórum Econômico Mundial, intitulado “O Futuro dos Empregos 2020”. Nos 26 países estudados estima-se uma perda total de 85 milhões de empregos. Pra não dizer que o emprego não tem tanto futuro assim, o estudo estima que 97 milhões de novas vagas vão ser criadas na economia de cuidados, nas indústrias com per

A ALDEIA GLOBAL E OS POUQUÍSSIMOS CACIQUES

Imagem
“Todo cidadão tem direito à atenção à saúde, à educação básica, à pelo menos três refeições diárias e à duas horas de audiovisual a cada dia.” Não, você não leu errado! Nós é que escrevemos um item ficcional numa declaração genérica de Direitos Humanos, num provável futuro. Há um século ninguém sabia, porque ainda nem existia. Mas o conteúdo audiovisual, tipo o que se vê em TV, cinema, celular, notebook, tablet e outros que virão, está se revelando uma necessidade fundamental da espécie. Uma extensão da vida projetada nos fatos do cotidiano – caso dos noticiários – ou em enredos envolventes – como no cinema, séries – em abstrações surpreendentes, vistas com efeitos especiais de ficções fantásticas. No recente período de migração para a tecnologia digital o que se repetiu, em praticamente todos os países que adotaram a nova tecnologia, foi governos subsidiando aparelhos para os cidadãos mais pobres. Ninguém poderia ficar sem TV pra assistir em casa. Tem aí um reconhecimento implícito de

QUANDO OS NÚMEROS NÃO CONVENCEM

Imagem
O vídeo esteve circulando na Internet há pouco tempo. Um vendedor convence um rapaz que determinada película transparente torna o celular resistente à marteladas. Ele apresenta um celular que teria sido revestido pela tal película, pega um martelo debaixo do balcão e dá algumas marteladas sobre o aparelho, que continua intacto, funcionando. A sequência da postagem traz o rapaz numa mesa de bar, com seu celular revestido, desafiando um amigo da mesa a bater forte com a garrafa de cerveja sobre o delicado handset . O amigo não aceita o desafio mas, diante da insistência, acaba socando o casco da cerveja sobre o aparelho. O celular se quebra por inteiro e para de funcionar.'' O que precisa acontecer para demonstrar “de forma concreta” algo que contradiz o seu próprio bom senso? Parece que algumas pessoas, como o rapaz do celular “blindado”, nem são tão exigentes assim. As “teles”, as quatro grandes operadoras de telefonia móvel no Brasil, podem ser consideradas suspeitas em suas p

DESDE QUE O MUNDO É MUNDO...

Imagem
Como é mesmo que se fala mi mi mi em inglês? Se demorar para encontrar a tradução, tente também um exemplo concreto em algum ambiente típico de meias palavras, em algum país que adota o idioma. Nos Estados Unidos, por exemplo, vai encontrar, no equivalente à nossa Câmara Federal, um caso clássico recém concluído. Há quase um ano e meio foi criada uma comissão, tipo CPI, para avaliar a postura de mercado das gigantes digitais americanas. Na berlinda, Google, Apple, Facebook e Amazon (não sentiu falta de nada aí? Vai ver que a Microsoft agora é uma microempresa). O relatório final foi entregue na semana passada e concluiu que essas marcas adotam uma postura muito prejudicial à competição. Para chegar a essa conclusão a comissão ouviu 250 pessoas e analisou mais de um milhão e trezentos mil documentos. O que eles escreveram de objetivo no relatório é mais ou menos o que ouviriam de você, caso lhe perguntassem. Novidade nenhuma. Poderiam ter partido direto para o passo seguinte, quando dev

EI, VOCÊ AÍ, MANDA UM DINHEIRO AQUI

Imagem
Quem previa que o mundo acabaria em papel, a essa altura já deve ter percebido que o risco passou. A explicação deve estar no tipo de uso que tornou o papel algo tão importante. Ou seja, o papel do papel. Quem nasceu há poucos anos e já sabe falar, ao ver vários documentos diferentes, todos em papel, lá no fundo deve pensar: “- Que telas diferentes são essas...?” Isso mesmo, ele é o ancestral mais antigo da tela. Um lugar para se gravar inscrições e transportar facilmente, guardar, enviar. Lá se grava a certidão de nascimento, de casamento, a escritura da casa, o RG, a licença para dirigir e até o dinheiro. O papel sempre foi uma tela adaptada para exibir determinadas utilidades. Leve e fácil de dobrar, tornou-se tão prático que formou fardos pesadíssimos. Prédios construídos para estocagem de papéis, exigem projetos especiais, para reforçar o piso, até os alicerces. Aquela infinidades de telas, gravadas com conteúdos imutáveis, vira um verdadeiro tesouro. Com as novas técnicas eletrôn

GUERRA ENTRE AS ESTRELAS

Imagem
A constelação digital está cerrando fileiras para uma guerra. Uma coalizão de 13 grandes empresas foi constituída em Washington (DC) para combater de um lado. Na trincheira inimiga estão Apple e Google. Não está em jogo nada do que essas empresas, de ambos os lados, admitem como moral. Só no discurso. E no nome adotado oficialmente, Coalition for App Fairne ss, ou “coalizão pela justiça de aplicativos”, em tradução livre. Independentemente da emoção que isso provoca – de choro ou de riso – essa história real é uma metáfora do quanto o apego ao dinheiro cresce, na medida em que alguém mais enriquece. A coalizão, bem ao estilo human rights , lançou seus dez comoventes princípios, tipo “nenhum desenvolvedor deve ser impedido de entrar na plataforma ou discriminado com base no seu modelo de negócios”, ou ainda “nenhum proprietário de loja de aplicativos deve proibir terceiros de oferecer lojas de aplicativos concorrentes na sua plataforma”. Essa última, propõe algo parecido com um suposto

PROMESSAS E PROJETOS NOS NOVOS TEMPOS

Imagem
“Se você perguntar o que ele faz e ele responder que tem um projeto incrível, fuja!” Era mais ou menos assim o primeiro item de uma pequena lista, numa publicação feminina, para identificar um namorado que não tem futuro. Você já deve ter conhecido alguém cheio de projetos e poucas realizações. Prefeitos falam muito de projetos, também governadores e presidentes. Será que projetos são inócuos? Desses casos citados, com certeza nenhum deles é, de fato, um projeto. São só sonhos. Às vezes um amigo sonhador garante que tem um projeto e até resolve mostrar para você. Apresenta uma logomarca interessante, com um nome curioso, um desenho ilustrativo bem feito. Nada que aponte um caminho para executar a ideia. Esses sonhos, ou são criados para enganar os próprios autores – casos para Freud explicar – ou servem para tentar enganar os eventuais colaboradores cooptados – casos para a polícia cuidar. Dentre os casos de boa fé, o que chegasse a virar projeto, poderia revelar que aquele sonho não é