AS MACRO ESTRUTURAS CRESCEM NA REDE




Para o lado mais sério do mundo a grande invenção humana foi a roda. Mas, para o lado mais divertido do cérebro, foi a bola. A revolução diametral que, no idioma falado, seria uma coisa muito diferente, na lógica geométrica quer dizer que a roda e a bola são quase a mesma coisa. E assim a Fórmula 1 fica bem próxima de futebol, é tudo esporte e tá redondo.

Não é porque começou a Copa da Rússia que bola aqui é futebol, porque na verdade futebol é que é bola (isso me lembra alguém...). Assim como basquete é bola, vôlei também é, assim como o tênis, o ping pong, baseball, golfe, até sinuca. A revolução 3D da roda pré-histórica é o grande elemento de convergência, que vai do campo plano ao acidentado, dos pés para as mãos, da mesa à rede, sempre divertindo e promovendo cultura.

Invenções geniais tendem a gerar convergência. Essa é a moral da história. E, no caso, a invenção genial convergente da vez é o computador. A gente se espanta com tanta coisa nova que aparece a cada dia, mas na verdade são só computadores dedicados. A boa e velha CPU explica tudo. Do bilhete do metrô à Internet, a AR, VR, IoT, a pqp. É só olhar para os lados e perceber quantos computadores nos cercam, porque se olhar pra frente, é até covardia.

Um estudo recente da Price Waterhouse Coopers (PwC), uma das maiores empresas de auditoria do mundo, acaba de descobrir – ou simplesmente constatar – a “Convergência 3.0”. Entitulado Global Entertainment & Media Outlook o estudo indica que, ao falar de conteúdos de mídia ou de entretenimento, cada vez mais estaremos falando de tecnologias e telecomunicações. A tendência é de que esses conteúdos migrem progressivamente para as plataformas digitais de telecomunicações, numa sequência natural do que já vem sendo observado há tempo.

Na prática, parcerias improváveis, como as que tratamos nas duas últimas edições deste blog, estão aproximando os grandes provedores e plataformas de entrega, como o Netflix, Amazon, Apple TV e tantas outras. É uma verticalização dos serviços dos quais o consumidor depende para ter acesso a conteúdos. Isso acontece sustentado por um espraiamento sem limites da produção de conteúdos, de mídia e de entretenimento, em todas as direções. O fenômeno é esse.


CONVERGIR É SOBREVIVER


É bem um caso de convergência. Não se nota mais aquela tendência “fagocital”, de um querendo engolir o outro. Até porque cada um desses atores é extremamente grande e profundamente especializado, a ponto de não se imaginar a Comcast engolindo o Netflix, nem vice versa. Cada um na sua, todos numa boa.

O que tende a alterar esse equilíbrio seria alguma invenção tecnológica disruptiva, capaz de tornar irrelevante o que acontece em um desses níveis da parceria. Ou alguma mudança regulatória, por exemplo, se as cidades decidirem universalizar o acesso à Internet como serviço público gratuito.

As perspectivas de expansão da grande rede são gigantescas. O estudo aponta para um aumento de 2,2 bilhões de acessos à banda larga até 2022. Para 2020 a previsão revela ainda outra tendência: vai ser quando o tráfego de dados para smartphones vai superar a banda larga fixa. O consumo móvel, neste ano de 2018, já deve elevar os investimentos globais em publicidade na Internet móvel, para um patamar maior do que na rede fixa.

Um detalhe curioso, em meio a uma produção imensa e crescente de conteúdo, é que a vida alheia continua atraindo as atenções. Os conteúdos de mídias sociais estão em alta e fazem sombra ao conteúdo tradicional disponibilizado na rede. A reação das empresas de produção tradicional deve vir na forma de novas plataformas, com marcas fortes como, por exemplo, a Disney passando a ser uma grife da Internet.

Isso pode implicar numa outra tendência apontada pelo estudo, divulgado pelo site Tela Viva. É o uso crescente de inteligência artificial nas grandes plataformas, para atender de forma mais personalizada alguns segmentos de consumidores. Investimentos desse tipo possivelmente serão mais oportunos em plataformas de tráfego intenso de visitantes, interessados numa ampla variedade de produtos e serviços.

Para o público brasileiro, de hábito festivo, a boa notícia é que a tendência de crescimento do interesse para eventos ao vivo está confirmada. Os estádios que se preparem! E não é só para o futebol, não. A taxa de crescimento anual composta (CAGR) para competições de e-sports deve crescer em 21,1% até 2022.


E O BRASIL NESSA?


Embora o blog esteja apostando no Hexa em 2018, nem precisa ser fanático para afirmar que o Brasil ainda vai brilhar por muito tempo no futebol. Mas não é só por aí. Do lado glamuroso das câmeras tudo indica que vamos brilhar. O Brasil já está isolado na ponta dos e-sports em nível mundial. Temos tradição na Fórmula 1, MMA, vôlei e muitas outras modalidades de destaque internacional.

A questão é quanto vamos protagonizar na – enfim confirmada – aldeia global. É comum haver, mesmo em regimes democráticos, reservas em relação à propriedade de órgãos de imprensa por parte de estrangeiros. No Brasil as leis nesse sentido foram aliviadas recentemente, mas não desapareceram.

Esse cuidado aponta para a importância que a comunicação de massa tem na formação de uma nação autônoma e soberana. Eis que a tal convergência começa a apagar essas tênues fronteiras de pensamento, de cultura e de valores. E nada indica que essa abertura virá para fortalecer cada nação, pelo contrário, deve importar hábitos e padrões de consumo.

Não há como reverter a inegável convergência. E não haverá lei capaz de conduzir esse movimento em direção à interesses nacionais. Exceção clara às nações competitivas nessas tecnologias, o que não é o caso do Brasil.

Podemos aprimorar conteúdos jornalísticos, levando em conta o alto nível dos profissionais brasileiros nessa área. Mas a apresentação visual das notícias ao público, as possibilidades de personalização do atendimento e a quantidade de opções de conteúdo e entretenimento que cada plataforma poderá oferecer, podem desviar a audiência. Em outros endereços, a política nacional deve ser muito menos importante. As nossas mobilizações, candidatos e partidos, tudo pode ser visto e interpretado por olhos que não estão fisicamente aqui.

O avanço tecnológico é uma realidade humana, por isso deve ser bem vindo em todas as nações. O atraso nunca será uma alternativa. Mas o momento mostra claramente que a soberania das nações está se consolidando sobre o conhecimento e a capacidade de realização internalizados. Daqui onde estamos fica difícil enxergar como chegar onde deveríamos estar. Mas já dá para concluir que, os caminhos que trilhamos nas últimas décadas, não vão nos levar a lugar nenhum.

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