QUEM TEM MEDO DO BRASIL 4D?


"-A novela é nesse botão aqui."
"-Nossa, que maravilha de imagem!!"
"-Mas isso não é nada. Tem muitas outras coisas aqui. Nesse outro botão você pode procurar vagas de emprego."
"-Não acredito, deixa ver. Olha, quantas opções! E dá pra procurar muito mais fácil."
"-Calma, tem mais,  vou apertar outro botão. Isso aí é um curso profissionalizante que você pode fazer pela TV. Tem vários pra escolher."
"-Cara, isso é muito prático! Imagina quanto tempo e passagem de ônibus eu já ganhei só nesses dois botões!"
"-Então anota aí: neste outro botão você marca consulta no postinho, neste aqui é pra reservar vaga na escola, dá também pra ver o boletim do seu filho, fazer consulta no banco, ......."

Esta é uma conversa que provavelmente se repetiu em boa parte dos cem domicílios que participaram do "Brasil 4D". O objeto em questão era o controle remoto. O aparelho de TV, daqueles antigos, tipo analógico e os moradores, beneficiários do programa Bolsa Família. A diferença é que em cada um desses aparelhos estava conectado um set-top box de alto desempenho, com uma implementação avançada do software Ginga.

Há um ano, um projeto-piloto está avaliando o desempenho do software Ginga - 100% brasileiro - junto a 100 famílias de Samambaia, no Distrito Federal. Elas sintonizam o sinal digital de TV aberta. Mas em 2013, um relatório do Banco Mundial divulgou resultados excepcionais do projeto-piloto Brasil 4D realizado em João Pessoa - PB. Dentre as conclusões categóricas, o modelo representaria uma economia de R$ 7 bilhões em 10 anos, no orçamento de 10 milhões de famílias atendidas. Imaginem a economia para o trânsito das cidades, para o atendimento de serviços públicos e até para o meio ambiente.

É BOM OU NÃO É?


O Projeto Brasil 4D, implementado pela estatal EBC - Empresa Brasileira de Comunicação, é um colecionador de prêmios de TV pelo mundo. Ele é baseado no uso do software Ginga para propiciar a máxima interatividade, utilizando a transmissão digital de TV. O Ginga já foi reconhecido internacionalmente como o melhor middleware para TV digital do mundo. Mas comercialmente, não se tornou um bom negócio.

É que em muito pouco tempo, as novas tecnologias para celulares e tablets fizeram surgir a "segunda tela". Vieram ainda as TVs da linha Smart. Então o brasileiro Ginga ficou esquecido. Tão esquecido como os milhões de brasileiros que não podem comprar TVs Smart e nem celulares de última geração ou tablets.

Então, para responder se o Ginga é bom, precisa saber quem está perguntando. Para aquela base do eleitorado, tão adulada pelos políticos em época de eleição, aqueles "que mais precisam", tenha certeza de que o Ginga é muito bom. Mas, para aqueles que compram todos os gadgets que aparecem nas lojas de tecnologia, o Ginga é dispensável. Mas atenção: por enquanto é dispensável!

SEDUZIU E ABANDONOU


O Projeto Brasil 4 D serviu para tirar a prova de quanto é eficiente o Ginga! Pra deixar o país inteiro com "água na boca". Se o mesmo set-top box do Brasil 4D fosse implantado em 10 milhões de lares, haveria uma grande audiência potencial para implantação de novos aplicativos. Bancos privados, consultórios, fast food, agências de viagens, poderiam investir em aplicativos muito práticos. Daí o Ginga ficaria interessante até para aqueles que tem TVs Smart e celulares de última geração. Afinal, a variedade de aplicativos disponíveis pelo sinal da TV digital aberta iria concorrer com os recursos das Smart TVs e celulares.

A única chance de ter a implementação avançada do software brasileiro em mais de 10 milhões de TVs, seria com o dinheiro das compensações pagas pelas operadores de celulares no ano passado no leilão da faixa de 700MHz. Elas pagaram as compensações para ficar com faixas de frequência utilizadas por parte das emissoras de TV. Existe um fundo de cerca de R$ 3,6 bilhões de reais, que poderia ser utilizado para colocar o Brasil 4D nos 14 milhões de domicílios atendidos pelo Bolsa Família. O resto, o mercado iria se encarregar.

Porém, na semana passada, fontes oficiais comentaram que o grupo que estuda a aplicação das compensações, decidiu que a interatividade do set-top box que o governo vai distribuir será "pontual", sem a possibilidade de utilização da maior parte das aplicações desenvolvidas para o projeto Brasil 4D.

Você pode estar pensando qual seria o motivo de jogar fora algo tão valoroso e brasileiro? A explicação pode estar na necessidade de redução de custo do set-top box, principalmente em virtude da escalada da valorização do dólar nos últimos meses. Mas será que a economia proporcionada em médio e longo prazo pelo Brasil 4D não justificaria ao Governo Federal o aporte de mais recursos para a compra de set-top boxes de alto desempenho com suporte ao Ginga avançado? Em época de corte de orçamento e ajuste fiscal, esta com certeza é uma equação difícil de responder.

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