A SEGUNDA VISÃO DA POLAROID


Se você acredita que o homem já teve um terceiro olho, localizado bem no centro das duas sobrancelhas, certamente vai ser considerada uma pessoa esotérica. Mas a tese tem alguns fatos concretos associados. A glândula pineal, ou epífise neural, para quem não ouviu falar tem o tamanho e a forma semelhantes a um caroço de laranja. Fica bem no centro do cérebro e lá, naquela escuridão, é constituída por membrana cristalina e receptores de cor! A pineal está envolvida em tecido conjuntivo, muito semelhante ao do globo ocular e possui uma inervação parassimpática proveniente inclusive de gânglios óticos. Palavras da Wikipedia. Pelo que está lá, dá pra começar a considerar mais a hipótese da terceira visão, até então puramente esotérica.

Os hindus dizem que a glândula está associada à capacidade intuitiva e à percepção sutil. No Século XVII, René Descartes, o criador do método científico utilizado até hoje, acreditava "ser a glândula o ponto da união substancial entre corpo e alma - um órgão com funções transcendentes". Quase quatro séculos depois, o que a ciência de hoje sabe é que a pineal está relacionada à regulação dos chamados ciclos circadianos, os ciclos vitais (principalmente o sono) e o controle das atividades sexuais e de reprodução. Mas a mesma ciência atual também se rende à algumas revelações aparentemente místicas. Num artigo publicado no ano passado na revista científica Neuroendocrinology Letters, o conhecimento médico recente sobre a glândula foi comparado com doze obras psicografadas pelo médium Chico Xavier atribuídas ao espírito André Luiz. Os cientistas identificaram diversas informações corretas altamente complexas sobre a fisiologia da glândula pineal, que só puderam ser confirmadas cientificamente cerca de 60 anos após a publicação das obras.

Parece pouco provável que engenheiros leiam revistas científicas da medicina, mas alguns deles já se entregaram ao desafio de produzir uma terceira visão. Nas melhores boutiques da moda "gadgets" a terceira visão fica na seção "câmeras de ação". A GoPro, no momento, é a grande vedete nas vitrines. Mas outra novidade acaba de chegar com um apelo vintage, sob a marca Polaroid, ícone da fotografia instantânea analógica. A Polaroid registrou flagrantes surpreendentes na década de 60, marcando com um contraste inconfundível a rebeldia daqueles tempos. Agora os momentos que a Polaroid quer flagrar, pelas câmeras de ação, estão nos ângulos improváveis, nos locais proibidos, nas situações inesperadas. Tanto que a empresa acaba de lançar um modelito mais popular que a GoPro, nada que US$ 99,00 não possam pagar. A "Cube", como é chamada a câmera, é pra jogar nas mãos de crianças, de adolescentes e de indiscretos de todas as classes sociais.

O produto traz mais do que uma nova categoria no mercado de imagem digital. A Cube é fruto também de um novo modelo de negócio para uma empresa que foi um ícone dos anos 70 e uma requerente de falência em 2001. Hoje a Polaroid administra parcerias com startUps para desenvolver layouts e softwares para seus produtos. Não tem mais como assumir departamentos próprios de pesquisa e desenvolvimento. O importante é que a "hippie" quase sexagenária está demonstrando plena competência para se manter em alta. Chegou à uma nova visão do mercado e da realidade do que é competir no mundo da tecnologia.

A Cube tem arestas de 35 milímetros, é toda emborrachada, suporta quedas e é à prova d'água. Com um clique no botão fotografa, com dois, filma. Não tem sequer um view finder, o visor por onde se enquadra a foto. Vai na base da mira do cowboy. Por uma pequena abertura troca-se o cartão de memória e pode escolher entre definição de 720p ou 1080p. Tem também um imã na base que facilita a fixação da câmera em qualquer superfície metálica, evitando o uso de acessórios. Sim, evitando mas não excluindo os acessórios, que já existem aos montes, para pregar a terceira visão no capacete, em membros do corpo e até entre as próprias sobrancelhas, onde já pode ter ficado o olho que regrediu para a glândula pineal.

A grande diferença prática entre a cube e a tese dos esotéricos é que, para parte deles, a terceira visão teria o poder de enxergar o futuro. Já a Cube é justamente para registrar para sempre o passado, aquelas coisas incríveis que acontecem em situações que dificilmente alguém tem uma câmera para acionar. Daqui em diante, pode ter certeza de que, se aparecer alguém com um terceiro olho no meio da testa, alguma Cube vai estar por perto para registrar.

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