OS ECOS DA SET EXPO


O mundo virtual que a Internet disse ter inventado já existia há muito tempo. É a televisão! Ela mantém a grande maioria das pessoas conectadas em dramas reais e ficcionais, por várias horas do dia. Até  há pouco tempo não tinha a possibilidade de interação em tempo real, de pessoa para pessoa. Mas a interação sempre aconteceu, com um pequeno "delay", um pouco depois. Era no comentário sobre o jogo de futebol, sobre o desfecho da novela, na reação à declaração de um ministro e até no novo ídolo, que brilhou no show de ontem. A televisão é um mundo tão ativo que faz circular centenas de publicações especializadas. São revistas sobre TV, programas de rádio, da própria TV e uma infinidade de sites na Internet. A Internet, que prometia superar a TV, pode estar começando a se tornar uma ferramenta televisiva.

Na última semana, a Feira e o Congresso da SET - a Sociedade de Engenharia de Televisão - trouxeram importantes sinais dessa realidade. Para o público em geral o novo apetrecho da televisão se chama "segunda tela", que nada mais é do que o smartphone ou o tablet onde rodam os aplicativos dos programas de TV. Por esses aplicativos, via Internet, qualquer um pode interagir, em tempo real, aplaudindo ou vaiando a música, como se estivesse ali na plateia do show que está no ar.

Nem precisa entrar no papo cabeça dos especialistas que falaram no congresso - entre eles, os mais renomados do planeta - para perceber o que saltou aos olhos de boa parte dos visitantes da Feira: primeiro, que a agitação na Feira deste ano não foi tão intensa; segundo, que não é possível mais pensar em televisão na América Latina sem a realização desse evento. Parece contraditório, mas não é. Quem foi à Feira não viu tantas novidades como nos primeiros anos do evento. Afinal, a Feira tem menos de uma década e nasceu no frenesi da chegada da TV digital ao Continente. Seria difícil manter a mesma empolgação até agora. Mas o evento teve o papel insubstituível de colocar diante de engenheiros e engenheiras de todas as emissoras, tudo que surgiu ou está surgindo nos setores de broadcast e novas mídias. Um setor que registra diferentes tendências a cada ano, a cada período de tempo cada vez menor. Entre essas tendências, poucas vão se firmar por mais tempo, mas podem ter eficientes soluções agora, em casos específicos, numa oportuna relação custo benefício. O mais importante foi a presença brasileira entre as muitas soluções que a Feira apresentou. Aquela babel de especialistas atraiu nacionalidades raras para estandes de empresas locais, fechando negócios e parcerias.

Outro motivo da importância da Feira pode estar no modelo de negócio da TV no Brasil. Somos o maior país do mundo onde a audiência da TV aberta supera de longe os canais por assinatura. Um modelo que pode ser o estopim de uma virada histórica no lazer mais consumido na Terra. Já há indícios desse movimento. Nos Estados Unidos, começa a crescer o mercado conhecido como "cord cutters", aqueles que cortaram a conta da TV por assinatura. O Roamio OTA DVR, da empresa TiVo, é baseado na TV aberta, associada aos serviços OTT, tipo Netflix. Funciona com uma caixa que custa US$ 49,99. O cliente paga mais US$ 15,00/mês para ter acesso a um guia de programação, com o qual ele pode planejar seu entretenimento. Se preferir, pode pagar US$ 500,00 de uma vez e ter o serviço para a vida toda. De qualquer forma ele vai acabar custando no máximo um terço do que se paga para ter uma TV por assinatura em casa. Essas caixas - que a empresa SimpleTV também já lançou lá - são os set-top boxes, que surgiram no Brasil com o papel de conversores de sinal digital. Os sistemas dessas caixas podem ser incrementados para agregar vários serviços.

A força dessa tendência se deve ao fato de que o sinal digital suporta a qualidade e a variedade que os consumidores americanos exigem. Com o guia de programação das emissoras abertas pode ser rastreado, por nome ou por tema, um filme que você quer ver ou um programa qualquer, e o sistema grava automaticamente. Na hora de assistir à TV você escolhe entre algum programa que já esteja gravado, ou entre os vários programas disponíveis nas emissoras abertas - que podem ser encontrados pelo guia, através do menu que você preferir. Tem ainda a alternativa de baixar o que quiser pelo sistema OTT. Com o tempo, o mercado vai procurar pelo guia mais completo e mais fácil de ser consultado. E o serviço de TV vai ficando cada vez mais "free" para o consumidor, tanto no preço como na escolha da programação. Na medida que essa tendência avance, as tecnologias para os "cord cutters" vão avançar mais rapidamente. Daí, com o mercado americano nesse segmento, o céu é o limite.

Um ciclo transformador pode surgir no horizonte da Engenharia de Televisão, a partir da TV aberta nacional. E se isso acontecer, o Brasil vai ser o modelo a ser seguido. Próximos capítulos dessa trama? Acompanhe nas edições da SET Expo.

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