"CHING LING" EM ALTA
"Mesma
coisa é um caminhão de chineses." Será!?
A
piada, baseada no fenótipo característico do povo chinês, recentemente passou a ser
usada também para fazer referência à estratégia industrial do gigante asiático.
Copia-se de tudo por lá, do layout até a fonética de marcas. Eles anunciam o novo
Hiphone a um preço abaixo de R$ 300,00 no Brasil. Parece que estão falando do iPhone,
o celular "share of mind" da Apple, mas estão falando de um similar
chinês, normalmente com menos recursos, menos qualidade e principalmente, mais
barato. A tática ainda é ostensivamente praticada na China, desde a fabricação de chaveiros até os automóveis. Claro, cercada de todos os cuidados jurídicos, de
forma a manter o produto chinês fora do conceito legal de cópia, apenas
"muuito parecido".
Mas
será que todos os consumidores são tão ingênuos assim? Mais fácil acreditar que
os consumidores apostam na ingenuidade das pessoas com quem convivem. Eles
sabem o que estão comprando. Mas quem vê um modelo de celular com aquelas
linhas, na mão de um amigo que pagou apenas pelo similar, vai ficar convencido de
que é um celular dos mais badalados. Imitar é um prazer para muitas pessoas e
os chineses dominam essa arte - ou artesanato - como ninguém. Até os nomes eles
copiam um dos outros, de tal forma que o país registra vários casos de erros
médicos por conta do excesso de homônimos no país.
Hoje,
a metáfora da cópia chinesa chama-se Lei Jun, conhecido com o Steve Jobs
chinês. Ora, seria Lei Jun um sósia do mitológico empresário americano? Mesmo
que fosse, a semelhança física seria insuficiente para tornar tão conhecido o
Steve Jobs mandarim. Na verdade, o que valeu a alcunha foi a característica
marcante do original, ou seja, ser muito original em tudo que faz. Há quem diga
que até o chinês destacado pela originalidade, precisou de um apelido plagiado
pra não ficar tão fora da regra. Olhando o outro lado também pode-se dizer que
Steve Jobs não inovou da maneira mais ortodoxa quando "inventou" o
mouse e a interface gráfica, ou mesmo o iPad. Inventar, então, passa a ser o
ato de copiar aquilo que um gênio criou mas não soube vender.
Lei
Jun, com certeza, é um nome a ser anotado e seguido. Se ele vai saber fazer o
auto marketing com a qualidade que Jobs conseguiu, só o tempo vai dizer. Mas
que está inovando de forma muito convincente, isso ninguém pode questionar.
Para entender a grande revolução que Lei Jun pode ter deflagrado, comece
tentando lembrar a última vez em que você ouviu falar de filas para comprar
microcomputadores. Faz muito tempo. Quem tem a cabeça branca poderá lembrar
primeiro do PC. No início da década de 80, o Personal Computer veio para
suceder os microcomputadores de oito bits. Outro grande sucesso foi o Pentium
lançado em 93, na verdade uma CPU, um processador, e não exatamente um novo
microcomputador inteiro. Depois, o último grande sucesso ficou por conta do iMac lançado
pela Apple em 98. E agora só se fala em novos sistemas operacionais ou
aplicativos, porque as "embarcações" pouco importam, avançam todas
num padrão muito parecido.
No
caso dos celulares o mercado é diferente - por enquanto! A novidade está na maquininha, no
hardware que acaba de chegar ao mercado. Pouca gente se importa se o sistema
operacional é o IOS, o Android ou até mesmo o Windows Phone. E é exatamente
isso que Lei Jun está mudando. A empresa dele, que
fabrica a marca Xiaomi é hoje a campeã de vendas de celulares na China, o maior
mercado mundial. Um relatório divulgado pela Canalys, uma empresa de pesquisas
que atua no mercado de tecnologia, aponta a venda de 15 milhões de smartphones
Xiaomi no ano passado, o que a coloca como a quinta maior fabricante do mundo.
Em 2012 o número era de 4,4 milhões. Para quem pensa que vai pagar baratinho
pela novidade, é melhor refazer as contas. Porque o grande sucesso dos Xiaomi
está nos aplicativos que só eles podem rodar, e que custam mais. O aparelho é equipado com o
sistema operacional Miui, na verdade uma versão modificada do Android. Só ele
suporta os jogos, os aplicativos e alguns serviços diferentes de Internet. Até
o layout do próprio Miui pode ser alterado pelos consumidores, que interagem
diretamente com a fabricante. E essa febre está aumentando a cada sexta-feira.
No dia do happy hour de cada semana a Xiaomi sempre atualiza a versão, mantendo
ativa a curiosidade dos clientes para o novo aplicativo ching ling que vão
carregar no bolso.
Os
aparelhos? Ah, sim, são vendidos pelo preço da soma dos componentes
eletrônicos. E ficam disponíveis nas lojas, na mesma versão, por até 18 meses.
A novidade, também nos celulares, começa a se concentrar na parte mais
inteligente, mais dinâmica do sistema, que é o software. Quem quer novidade em
coisas físicas, tangíveis, é melhor pensar na moda das jóias ou confecções. Que
tal um belo robe de seda?
Comentários
Postar um comentário