COMPRAR: A NOVA COMPULSÃO DIGITAL


Caju é praticamente uma marca brasileira. Praticamente, só uma marca. Aquela textura sedutora, o tom de vermelho que se funde com o amarelo, são como versos da natureza. Músicos e poetas não se cansam de usar aquela imagem saborosa pra provocar os mais diversos sentimentos. E depois de toda essa inspiração, ......direto pro lixo. É isso mesmo, são quase dois milhões de toneladas de caju que só o Nordeste Brasileiro manda para o lixo todos os anos, logo depois das fotos que vão estampar as propagandas das agências de viagem. Não é a carreira de modelo fotográfico que garante a economia do caju. O grande valor está na castanha da fruta, que paga as contas da produção desse astro sedutor.

Em muitos negócios que acontecem no mundo da inovação fica difícil saber exatamente o que está sendo comprado. Adrian Perica, o executivo da Apple encarregado da aquisição de empresas, chegou a fazer uma oferta por uma startup dizendo que queria ficar apenas com os funcionários. Não havia interesse pela marca e nem pela tecnologia. Só a equipe, para engajar no desenvolvimento de um novo produto da Apple. Por essas e outras, Perica está ganhando notoriedade nas rodas que especulam sobre as aquisições de grandes empresas. Ele foi contratado depois que a Apple perdeu a compra de uma empresa de publicidade móvel em 2009. Desde então o ex-oficial de inteligência das forças armadas americanas está ganhando a confiança da empresa, a ponto de mudar um antigo paradigma da Apple, que só investia na compra de pequenos negócios. Na compra recente da Beats Eletronics, fabricante de fones de ouvido e criadora de um serviço de streaming de músicas, foram investidos US$ 3 bilhões. Ainda bem aquém dos US$ 19 bilhões que o Facebook pagou pelo WhatsApp e abaixo da metade do que a Microsoft pagou pela Nokia. Porém, superou em muito a segunda maior aquisição do grupo, fechada há mais de 15 anos, no valor de US$ 404 milhões.

Depois de se formar em West Point e passar pelas forças armadas, Adrian Perica esteve na Delloite, uma das maiores empresas de consultoria do mundo. Depois se firmou no banco Goldman Sachs. Na vida de banqueiro ele prosperou, depois de superar parte da confessada dificuldade pessoal em se relacionar com as pessoas. Na Apple ele está contaminando os colegas executivos com a compulsão por negócios que ele trouxe do ambiente dos bancos. A ideia é colocar em circulação uma boa parte dos US$ 151 bilhões que a empresa tem no caixa. Sempre na aquisição de novas empresas. Sempre na base da compra de caju, onde não se sabe que parte do lote adquirido vai ser jogada fora. São várias as aquisições da Apple feitas simplesmente para fechar as empresas e usar alguma coisa que veio com elas. A HopStop.com e a Locationary são duas startups que serviram apenas para os planos de aprimoramento dos softwares de mapas. Da AuthenTec só sobrou o sistema de autenticação de impressões digitais, hoje implantado no iPhone 5S. Difícil é imaginar o que a Apple pretende fazer com a Tesla Motors, uma montadora de veículos, cujos executivos foram flagrados no começo do ano num espaço onde a Apple reúne reservadamente seus potenciais alvos para aquisições.

O ritmo da inovação promete tornar o jogo dos negócios muito mais imprevisível. As empresas envolvidas diretamente com tecnologia da informação e telecomunicações se capitalizam muito rápido. O dinheiro que os algoritmos arrebatam é cada vez maior e os produtos que eles transformam são cada vez mais numerosos. É aí onde entra um detalhe diferente desse ambiente de negócios: é o perfil passional desses inventores, que se tornam capazes de tudo para ver o impacto que seus sistemas causam nos hábitos das pessoas e na sociedade.

Os telefones celulares, por exemplo, estão saindo das teles nativas para se transformarem em pcs de bolso. Suas marcas estão migrando definitivamente para o território da informática. Afinal, dá pra pensar num celular mais interessante sem saber qual vai ser o sistema operacional? E assim os bits vão dominando mais espaços. Alguém poderia imaginar que a Google iria comprar uma fábrica de robôs militares? Qual será o sistema operacional dos exterminadores do futuro? Antes disso, qual vai ser a plataforma que vai fazer funcionar o carro que a Google está projetando? Isto é, se a Apple não lançar algo parecido antes.

E para quem tem a certeza de que as máquinas nunca vão conseguir roubar o prazer que vem da beleza e do sabor do caju - ou da castanha de caju -  atenção! Já faz tempo que estão passando pra trás os galãs do sabor. O amendoim, que é muito mais bobo, pequeninho e cascudo, vende um doce no mercado que é o maior sucesso nas festas de casamento. E o nome é cajuzinho.

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