SOMOS TODOS MACACOS...... DIGITAIS


Não se faz mais vovó como antigamente. Nada contra as vovós atuais, que participam até de desfiles de beleza, usando biquínis ousados. A questão é que as vovós do passado faziam a ponte com um tempo que a gente não conhecia. Ou melhor, um tempo que ainda não tínhamos conhecido. Porque as primaveras passavam e as gerações acabavam vendo uma realidade não tão diferente, pois o mundo demorava pra mudar. Percebia-se apenas que havia um jeito das crianças falarem, outro dos adolescentes, tinha as expressões que as pessoas maduras usavam e finalmente a conversa dos velhinhos. Cada um nas suas respectivas hashtags. Isso mesmo, verdadeiras hashtags verbais. É por aí que a gente percebe que o mundo digital não inventou tanto assim. Ele inovou! O que significa, inclusive, usar melhor, dar outra vida a algo que já está incorporado aos hábitos das pessoas.

O que tinha de especial nas vovós era a presença mais constante na nossa infância. A "Terceira Idade" não tinha sido inventada, as agências de viagens não tinham pacotes especiais para a turma delas, que costumava se encontrar na missa ou na quermesse para reforma da igreja. Sobrava, então, paparicar os netinhos. Afinal os adultos estavam trabalhando, não tinham tempo, e os adolescentes sempre odiaram os "fedelhos". Assim, a doce presença das vovós, marcava com frases e fantasias a vida das crianças.

Taí outro legado que o mundo digital reconstrói com muito entusiasmo. Lembro-me de fábulas, onde a falta de telefones celulares ou de e-mail levou os autores à soluções do tipo "um passarinho me contou". A frase pegou, atravessou fronteiras e edições de livros até da história real. Não deu outra, virou o ícone de um dos maiores websites do mundo, que hospeda o servidor para microblogging Twitter. Não inventaram nada. Se a vida imita a arte, o futurismo é maquiado, continua imitando o passado, tal qual os macacos, que imitam tudo. Somos todos macacos digitais.

Os poderosos trinados do Twitter finalmente deram veracidade aos argumentos das fábulas. Diariamente, milhões de pessoas mundo afora ficam sabendo de coisas que "o passarinho me contou". As vovós do passado nem imaginavam que as excitantes fofocas iriam se transformar num gênero da literatura "upon" vida alheia. Nada, nada, o gênero está sendo a aposta do Twitter para recuperar o preço das ações negociadas na Nasdaq. As fofocas binárias - ou trinadas - prometem aumentar em 84% a receita publicitária do site neste ano, para US$ 1,1 bilhão. Como toda boa fofoca, tem um grupinho que dispara o babado. No caso, envolve emissoras de TV, empresas de mídia como NBA, NFL ou Viacom e o microblog ornitófilo. Em setembro do ano passado, na final do Open de Tênis dos Estados Unidos, Novak Djokovic e Raphael Nadal disputaram um game durante 54 segundos. Um rali histórico, emocionante! Em poucos minutos, o vídeo foi disparado pelo Twitter, acompanhado da marca Heineken com a mensagem: "Abra o seu mundo". A cervejaria emplacou um aumento de 71% da circulação da sua marca nas redes sociais naquele dia. A zombaria do discurso do ator Zac Effron, por ter recebido o MTV Movie Awards pelo "melhor desempenho sem camisa", foi mais gratificante ainda para a marca Revlon. O vídeo do ator - com a Revlon na garupa - foi exibido mais de 100 mil vezes. Mera fofoca.

Como em tudo que exige criatividade o Brasil sempre se destaca, a hashtag que o craque Neymar gestou nas últimas semanas deve ter marcado um novo record do Twitter Amplify, nome desta nova modalidade publicitária do site. Prevendo a oportunidade, Neymar pediu a uma agência publicitária que criasse a hashtag adequada, combinou com outros jogadores e ficaram esperando o momento ideal para sensibilizar milhões e milhões de pessoas mundo afora. A presença de espírito de Daniel Alves, ao comer uma banana-racista atirada no campo durante um jogo, detonou o movimento pelas redes sociais. Resultado: goleada inesquecível da cidadania em cima da indigência moral.

O segundo ciclo das Grandes Invenções ainda está por vir. Por enquanto, a tônica é reinventar, um dos sinônimos de inovar. Quando Thomas Edson inventou a lâmpada, possivelmente ele nem sonhava que tinha reinventado a vida noturna, a boêmia, e até os workaholics. Se Graham Bell soubesse que inventou o telemarketing, possivelmente teria criado a discagem criptografada. O brasileiro Santos Dumont reagiu tragicamente quando percebeu que tinha inventado uma das mais temíveis armas de guerra. E, com certeza, os ingleses teriam inventado outro esporte, se soubessem que o futebol serviria para colocar o Brasil como a maior potência do esporte mais popular do mundo. Com certeza, há muitas coisas ainda a serem feitas mais ou menos como antigamente.

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