INOVAÇÃO, UM VERBETE EM CRISE

Pense num problema sério que todo mundo tem pra resolver. E imagine agora se surgisse na sua cabeça uma solução simples e barata para este problema. Você ficaria rico da noite para o dia e apareceria nas capas das principais revistas sobre inovação. Este seria um bom tema para histórias do Mickey ou do Franjinha. Mas no mundo real, onde ratos não falam nem crianças viajam em discos voadores, inovação acontece num cenário anterior ao sonho. Não é de agora, sempre foi assim.

Colombo é um dos ícones históricos da inovação. Nem por isso colocar um ovo em pé era uma necessidade de alguém. Com o advento da micro informática e da Internet a humanidade estava quase convencida de que todos os problemas estavam acabando. Afinal, o conteúdo das maiores bibliotecas do planeta ficou disponível para qualquer pessoa. O Google mostrou que faltava um índice eletrônico para tanta informação. Há dez anos, não se tinha notícias de alguém sofrendo pela falta de uma página numa rede social. O facebook apostou que sim.

Tomar um táxi, por exemplo, nunca pareceu uma tarefa complexa. E realmente não é. Tão simples que, nos Estados Unidos, milhares de motoristas são donos de licenças com valor estimado na casa de milhão de dólares, quando em grandes cidades. Um patrimônio incompatível com alguém que tem no currículo apenas a habilidade de dirigir. O que ninguém tinha pensado é que um táxi pode ser muito mais útil na vida das pessoas, se for um pouco mais eficiente. Foi só colocar os bits para trabalhar.

A empresa chama-se Uber, é sediada em São Francisco. O que ela oferece aos taxistas associados é apenas um smartphone, com um aplicativo. Ele mostra o trajeto até o cliente mais próximo, que usou o mesmo aplicativo para chamar um taxi. Na prática, isso significa que nenhum cliente espera mais do que alguns minutos pra ter um taxi abrindo as portas na calçada onde ele está. Os carros da Uber também não precisam disputar a faixa da direita com os ônibus, esperando o aceno de algum pedestre.

Numa avaliação superficial, nenhuma antiga demanda da população foi superada. Porque ninguém via problemas graves nos taxis. Mas, a partir do aplicativo, milhões de pessoas passaram a ganhar muito tempo, as tarifas diminuíram, os taxistas associados recebem bônus e outras vantagens em cartões de crédito, planos especiais para comprar carros novos ou fazer seguros. Valores disponíveis no orçamento do serviço de táxi, que antes apenas engordavam as contas das empresas do setor. A meta da Uber é aumentar a eficiência dos serviços até tornar desnecessário o carro que você tem na garagem. O que representaria um mercado inimaginável para quem tem um táxi.

Por enquanto, quem está chutando as portas dos tribunais são os senhores das tradicionais empresas de táxi. Eles ganhavam milhões e milhões de dólares, fazendo algo tão simples, sem grandes reclamações da população. E tinham ainda a segurança da concessão de um serviço público. Agora, estão vendo seu império seriamente ameaçado, e querem que a Justiça garanta seus direitos. Ou privilégios?

É claro que existem alguns percalços por esses caminhos, nem tudo é tão maravilhoso. Mas o dado real é que, com menos de 5 anos de existência, a Uber já está em mais de 70 cidades pelo mundo e pode ter fechado em 2013 mais de 1 bilhão de dólares em corridas conectadas pelo seu aplicativo. As contas exatas ainda não foram divulgadas.

A bem da verdade, a Uber não foi fruto de um insight sensacional, de algum gênio desconhecido. A empresa recebeu investimentos de gigantes do Vale do Silício que esperam ver seus simples aplicativos se transformarem em soluções, medidas em dólares. Outros agentes financeiros, atentos às reviravoltas "booleanas" do mercado, também apoiaram o negócio. Sinal de que quem tem dinheiro para investir, sabe que a inovação é a arca do tesouro desses tempos.

Lembre-se de que tem muita gente ocupada em resolver os grandes problemas. Vai ser mais difícil inovar nessas situações. A boa notícia é de que a sua saga inovadora pode estar em algum lugar mais próximo do que os seus óculos.

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